Lavignea Witt
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Já imaginou pagar para ser acordado todos os dias de manhã por uma pessoa? Sim, por mais estranho que pareça, a profissão de despertador humano era muito comum na década de 1920. Esses profissionais, que possuíam clientes fixos, ajudavam pessoas a despertar, batendo em suas janelas até terem a garantia de que haviam acordado. Com o progresso das tecnologias, nos dias atuais a maioria das pessoas utiliza aplicativos de celulares e relógios digitais como despertadores.
Por conta da evolução humana e trabalhista, muitas profissões que surgiram anos atrás já não existem mais, assim como outras ainda perduram no mercado de trabalho. São muitas as pessoas que exercem essas atividades, orgulhosas de garantir conquistas profissionais e financeiras através de profissões antigas, mas que até o presente são aproveitáveis e necessárias para a sociedade. Confira cinco exemplos dessas atividades e as experiências de moradores de Santa Cruz do Sul.
Alfaiate
Essa profissão carrega muita tradição ao longo dos anos. O alfaiate é o profissional encarregado de criar roupas masculinas, como ternos, calças, camisas e outras peças, assim como reformar trajes conforme o gosto do cliente. Esse trabalho exige muita paciência e rigor na costura, para garantir a qualidade nas criações e renovações das peças.
Nos dias atuais, é difícil encontrar um profissional que trabalhe com alfaiataria. Em Santa Cruz do Sul, Ary Waclawovsky é considerado como o único no ramo atuante na cidade. Seu Ary, como é gentilmente conhecido, trabalha como alfaiate desde os 13 anos, quando um vizinho o contratou para passar roupas que eram feitas em seu local de trabalho. Depois disso, ele nunca trabalhou em outra coisa na sua vida. Atualmente, ele trabalha exclusivamente para as lojas Yes Feminina e Masculina, e não recebe serviços de fora.
Muita atenção é a principal exigência para esse ofício, segundo o alfaiate. “Ela não é cansativa fisicamente, mas mentalmente. As costuras tem que ser retinhas, tem que ter muita concentração no que está fazendo”, frisa. Com quase 70 anos de experiência, Seu Ary fala com orgulho sobre a profissão que o sustentou a vida inteira e que ajudou a criar seus dois filhos. “Através desse trabalho, consegui fazer muita coisa em minha vida”, orgulha-se o alfaiate.
Cozinheiro
Não se sabe exatamente quando surgiu a profissão de cozinheiro, mas há relatos de que banquetes com os mais diversos tipos de pratos culinários começaram a ser preparados por volta de 3.000 a.C. Assim, esse ofício pode ser considerado um dos mais antigos do mundo. Um cozinheiro, além de preparar pratos, também pode fazer planejamento de cardápios, escolha de alimentos, supervisão de trabalho de outras pessoas dentro da cozinha e muitas outras funções.
Para ser cozinheiro, o chef Davi Rodrigues aponta que, em primeiro lugar, a pessoa precisa gostar do que faz. Ele começou a se interessar pela gastronomia ainda criança e sua mãe o incentivava, deixando-o produzir algumas coisas. “Eu gostava muito de fazer algo na cozinha, minha mãe sempre me deixava fazer bolo. Com 17 anos, surgiu minha primeira oportunidade para trabalhar em uma restaurante. Depois, quando servi no Exército, fui cozinheiro de lá”, recorda.
Após essas experiências, Davi fez um curso de Gastronomia no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) em Porto Alegre e, quando retornou para o município, graduou-se no mesmo curso na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). A partir desse momento, não faltaram oportunidades na vida do cozinheiro. Ele já gerenciou cinco restaurantes, sendo dois próprios. Hoje é proprietário do Brasserie Chef Davi, que oferece serviço à la carte.
Para o chef, a gastronomia está em alta nos últimos anos no município. “Hoje temos muitas propostas gastronômicas, cervejarias artesanais, cafeterias, hamburguerias e outros que antes não existiam. Ainda há muitos amantes da gastronomia e a parte da gourmetização está muito em alta, as pessoas que não são da área gostam de fazer. Além disso, há mais escolas desse âmbito, é uma profissão que está muito em alta e posso afirmar que vale a pena”, incentiva.
Músico
O trabalho de músico existe há 35 mil anos, quando houve a invenção da flauta de osso. Esse profissional se utiliza da música para se expressar artisticamente através de instrumentos. Além de talento, é preciso muita dedicação e persistência para se manter na carreira por conta do mercado de trabalho exigente. Profissional da área, Thiago Porto alegra-se ao falar do seu instrumento de trabalho: “A música é um canal muito poderoso para mexer com nossas emoções e sentimentos”.
Ele conta que, desde criança, é apaixonado por música. “Com o tempo, passei a desenvolver um senso de propósito de vida com a música. O reconhecimento sempre aparece quando fazemos o que amamos e, assim, ao longo de toda minha vida, muita gente me motivou para que eu seguisse esse caminho e não desistisse dos meus sonhos”, relata.
Para Thiago, é muito bom trabalhar com o que se ama, pois isso em si já recompensa. Entretanto, o músico também destaca os desafios da profissão. “A questão da remuneração é um desses desafios. Em geral, os músicos precisam se submeter às condições impostas pelos estabelecimentos que os contratam”, explica. Por outro lado, ele afirma que há aspectos bons da profissão, como a possibilidade de conhecer e interagir com as pessoas, participar de momentos importantes de suas vidas.
Os benefícios da música são inúmeros, de acordo com o profissional. “Existe música para todos os momentos. Em uma festa, ela pode animar as pessoas. A pessoa pode se libertar de um acúmulo de estresse, transmutando tudo em alegria e boa vibração. Os benefícios disso para a saúde física e psicológica são incalculáveis”, enfatiza.
Pintor
A atividade de pintar surgiu há milhares de anos atrás, quando a vida humana estava iniciando na Terra. Foi um trabalho seguido por diversas civilizações e hoje conta com novas técnicas e procedimentos que garantem beleza e sofisticação aos espaços. O profissional dessa área é responsável pela proteção e decoração de paredes através da aplicação de tintas.
Elton Fachini, que trabalha há mais de 20 anos como pintor, conta que por uma necessidade de renda decidiu ingressar nessa profissão. No início da sua carreira, aprendeu a atividade sozinho e depois fez cursos de especialização e atualizações em texturas, massas e tintas. “Nas oportunidades na obra, como tratamos nosso trabalho, a parte da pintura foi a que mais me encaixei, por ser mais leve e trazer acabamento e beleza ao ambiente. Além de ter uma remuneração mais justa”, relata.
O pintor diz que é gratificante encontrar uma construção bruta e sem cor e trabalhar no espaço fazendo uma transformação. “Por outro lado, é um trabalho que exige esforço, técnicas, atenção e atualização do conhecimento, e por isso deveria ser mais valorizado, assim como todos os profissionais da construção civil”, reitera Fachini.
Para ele, a pintura contribui para deixar a cidade mais harmônica, bonita e agradável. “Não existiria loja de tintas sem o pintor, que é um profissional essencial para o desenvolvimento”, observa. Ele também manifesta que o pintor é uma das engrenagens de uma obra, que, além de embelezar espaços, contribui para o acabamento final das construções.
Sapateiro
O ofício de sapateiro ou sapateira surgiu em 1305, quando o rei Eduardo I decretou medidas padronizadas para a fabricação de sapatos. Desde então, esses trabalhadores dedicam-se ao conserto ou fabricação de calçados em geral. É uma das profissões mais antigas e muito procurada por clientes que desejam economizar arrumando sapatos estragados ou que possuam valor sentimental.
Ana Claudia Eichelberger atua na empresa Sapataria Rápida Cruz há sete anos e tornou-se proprietária há seis meses. Ela conta que era costureira e, trabalhando no estabelecimento, adquiriu experiência para se tornar sapateira. “O antigo proprietário da sapataria resolveu se aposentar. Então ele passou a empresa para alguém que já trabalhava há alguns anos com ele. No caso, foi eu. Eu aprendi muito aqui a lidar com os calçados e ver como funciona”, comenta.
Sobre a profissão, Ana Claudia destaca que precisa de muita calma e paciência, pois cada calçado é um desafio. “Eu acredito que, por ser um trabalho mais artesanal, essa particularidade chama a atenção de todos, inclusive dos funcionários da sapataria. Todos que trabalham aqui fazem porque gostam”, alega.
Sustentabilidade é um dos aspectos mais fortes desse trabalho, pois um objeto que ia para o lixo pode ser reutilizado depois de consertá-lo. “As pessoas às vezes nos trazem calçados achando que não tem o que fazer. Quando a gente fala para eles que tem o que fazer, parece que abre uma possibilidade. Acaba que não se acumula tanto lixo para a sociedade e para o meio ambiente. Seria uma educação o reaproveitamento do que se tem”, ensina.