Entra governo e sai governo, e o transporte nas grandes cidades segue sendo um dos maiores desafios que as sociedades enfrentam em todo o mundo. Seja pela falta de infraestrutura no transporte público ou pelos altos preços praticados pelo transporte particular, é difícil mencionar alguma metrópole que tenha soluções de transporte a contento da população. No Brasil o problema é ainda mais grave. No entanto, com a chegada do Uber, andar de transporte particular passou a ser uma alternativa de fácil acesso.
O Uber surgiu em 2009, quando Garett Camp e Travis Kalanick participavam da conferência LeWeb, na França. Após o evento, ao precisarem retornar para o hotel, tiveram dificuldades para encontrar alguma opção de transporte público, um táxi e até mesmo um motorista particular. Foi então que pensaram que seria incrível poder, a um toque no celular, contratar o serviço de um motorista particular. O objetivo era facilitar e inovar a forma pela qual as pessoas se locomovem pelas cidades, inicialmente em São Francisco (EUA), com a utilização de veículos sedã. Foi assim que surgiu o Uber Black, primeiro produto da empresa.
Ao expandir-se pelo mundo, o Uber encontrou – e ainda encontra – inúmeros desafios. Inicialmente sem regulamentação nas cidades em que operava, o Uber colidiu de frente com o interesse de taxistas e ajudou a revolucionar as relações de trabalho na era digital. Afinal, com a economia em transformação, muita gente ficou sem trabalho formal em diversos lugares do mundo, especialmente nos Estados Unidos pós-crise de 2008. Não foi diferente no Brasil, que ainda vive uma profunda crise econômica. O Uber tornou-se não apenas uma alternativa para as pessoas se locomoverem como também uma opção de sustento para muitas famílias.
Quem já utilizou o serviço certamente ouviu histórias de motoristas dos mais diversos tipos e formações. O aplicativo chegou ao Brasil em 2014. A primeira cidade a receber o serviço foi o Rio de janeiro, em maio. Em junho do mesmo ano, foi a vez da cidade de São Paulo, seguida por Belo Horizonte, em setembro. Atualmente, a Uber atua em mais de 100 cidades no Brasil, e o número segue crescendo. Além da expansão da malha urbana atendida pelo aplicativo, a empresa também tem buscado crescer em outros sentidos e, em abril de 2019, depois de concluir seu movimento de abertura de capital, o Uber chegou à Bolsa de Valores de Nova York com forte expectativa de lucro.
Uber ainda busca se adequar à realidade do mercado financeiro
A intenção era buscar um valor de mercado entre US$ 90 bilhões e US$ 100 bilhões para seu IPO (abertura de capital), influenciados pelo desempenho das ações da rival Lyft, que foi avaliada em US$ 24,3 bilhões na abertura de capital em março. Anteriormente, alguns bancos de investimento já tinham dito à Uber que o valuation da empresa poderia chegar a US$ 120 bilhões. A oferta foi coordenada pela consultoria Morgan Stanley e bancos como Goldman Sachs e Bank of America.
Porém, é praticamente unânime a opinião de que sua abertura de capital, ocorrida no dia 9 de maio, foi um fiasco. Para empresas avaliadas em mais de 10 bilhões de dólares, a abertura do Uber teve o quinto pior retorno nos últimos 24 anos, segundo os dados da plataforma de serviços financeiros Dealogic, com a ação caindo 7,6% no primeiro pregão e outros 7,1% no segundo. A expectativa dos executivos da companhia é de que haja uma melhora num futuro próximo. De fato, nos dias subsequentes à abertura, as ações da Uber tiveram alguma recuperação. Pequena, porém. Seu preço variou até chegar perto de 40 dólares, quase 11% abaixo da oferta inicial — que já era baixa.
Apesar do gigantismo, lucratividade do Uber ainda não veio
Apesar de ser o aplicativo de transporte mais popular do mundo, o Uber não gera lucro. Recentemente a companhia divulgou um prejuízo de US$ 1 bilhão no primeiro trimestre de 2019, e a situação não deve mudar em breve. De acordo com análises e executivos da própria companhia, a empresa ainda levará “alguns anos” para se tornar rentável.
O alto nível de competitividade do setor de transportes e o baixo retorno que o Uber recebe das transações são os principais motivos para as contas não saírem do vermelho. Além da rival norte-americana Lyft, a empresa também enfrenta a concorrência de empresas locais em grandes mercados, como a Ola, na Índia, e a chinesa Didi Chuxing.
O modelo de negócio baseado em quantidade também impede o fechamento positivo dos balanços financeiros. Mas o Uber já tem um plano para reverter o quadro – a companhia irá focar seus esforços no desenvolvimento de carros autônomos, apresentados como a grande virada para o mercado dos transportes para os próximos anos.