Calça cintura alta como tendência na moda. Colar de miçanga sendo reutilizado, crise econômica e programa de privatizações. Possibilidade de apagão, estatal sendo vendida a custo de banana. Serial killer procurado pela política e pânico por ritual satânico. Ao olhar as notícias a gente até duvida, mas a verdade é que os anos 90 voltaram.
Ao abrir qualquer jornal ou usar a internet, vemos notícias que temos a impressão de já ter visto em outra hora. O Brasil está ao avesso, isso ninguém duvida. No mesmo País que produz tanto alimento, o ministro da Economia sugere um programa para utilizar as “sobras” da comida de outros. Sim, você não leu errado. E eu aqui achando que permitindo o consumo interno consequentemente o mercado interno ficaria feliz. Ao menos nós sabemos que os liberais não ficam. Para eles, melhor é que a gente exporte commodities e deixe os lascados passando fome. Tá ruim? Espera aí que logo vem mais um aumento no gás de cozinha para se preocupar.
Além disso, ao mesmo tempo Paulo Guedes comanda um novo pacote de privatizações que agora mira na Eletrobras. Eu ainda lembro, mesmo que pequeno, dos apagões que passamos na virada do milênio. Sabe qual Estado não sofreu com isso? Ele mesmo, o nosso Rio Grande do Sul, que tinha como secretária de Minas e Energia Dilma Rousseff. Sim, a ex-presidenta, que foi ridicularizada por falar em estocar vento. Bons os tempos que a gente ria disso e não das bobagens atuais faladas pelo Bolsonaro, né? Muita gente riu de Dilma, não entendeu o que ela quis dizer e, bom, chegamos a esse ponto: voltaremos a ver apagões e racionamento de energia. Graças aos liberais.
Existe uma relação intrínseca entre a década de 90 e o liberalismo. Com a queda do Muro de Berlim e a consolidação do capitalismo, os partidos e organizações de esquerda entenderam que houve uma derrota estratégica, portanto, os esforços foram todos reorganizados para combater o neoliberalismo, a etapa atual do capitalismo no mundo atual. Um novo momento de concentração de renda, precarização, desregulamentação da economia e todas essas maravilhas que só a direita consegue produzir. Na década de 90 vi meu pai perder o emprego, a sua categoria, a dos bancários, encolher por conta das privatizações e fusões entre bancos e outras. Destes anos, só vou levar na lembrança como boas memórias as vitórias e títulos do Grêmio.
A minha geração cresceu em meio a um mundo do trabalho em completa mudança que resulta na situação em que vivemos hoje: uma economia que não serve a todos, mas que é benquista para uma minoria muito rica. O pouco que adquirimos em meio aos governos Lula e Dilma que garantiram acesso aos bens que antes eram restritos à burguesia, se esgotaram. Estamos esgotados, desesperançosos e cansados de notícias ruins que se repetem. Serial killer, velhas tendências na moda, privatizações, liberalismo. Apertem os cintos: os anos 90 voltaram com tudo.