Neste período de pandemia, caos, crise econômica, política e sanitária, não há um único dia que não me pegue pensando em meus amigos. Dos mais próximos aos mais distantes, aos que nos acompanham e vibram com os acontecimentos de nossas vidas narradas nas redes sociais. Das amizades que nem sempre estão presentes na conversa diária, mas que carregam conosco o sentimento de carinho e afeto que transcende a distância e o tempo sem conversar. Não foram poucos os dias que fiquei refletindo sobre como nossas vidas se cruzaram e na felicidade que carrego pelas suas amizades. Fico pensando sobre como estão aguentando esse isolamento sem data de término. Será que partilham das mesmas dúvidas, angústias e questionamentos. São durante esses momentos que penso em pegar uma caneta e escrever a eles o que gostaria de falar. Não apenas falar, mas registrar como enfrentamos isso, como uma prova de amizade que perpassa os períodos mais duros da vida.
A estes, gostaria de dizer que nem sempre sou o amigo mais presente ou generoso, mas que lembro de todos, torço pelas conquistas que acompanhamos pelas redes e não deixo de agradecer pelas mensagens de carinho e atenção que tomam a forma de notícias compartilhadas, fotos, recados ou comentários. Gostaria de dizer aos meus amigos o quanto eu queria ter aproveitado mais. Mais uma cerveja, churrasco ou conversa sobre tudo e ao mesmo tempo nada. Talvez as restrições e a falta de contato com as pessoas nos deixem mais nostálgicos do que costumamos ser. Estamos carentes de afeto, do toque diário. Do abraço, do aperto de mão, do sorriso que não se enxerga por trás da máscara. Então, o que nos resta são as memórias. De certa forma, faz parte da condição humana contar histórias, reescrever momentos, em uma tola tentativa de preservar a essência daquilo que já aconteceu. A memória vai sendo esculpida como um objeto a cada vez que a contamos. Com breves ajustes, algumas omissões, com a adição de novos detalhes, de forma que ela sempre parece nova. Como se surgisse uma nova versão dela a cada vez que a contamos. Neste momento, é o que nos resta: lembrar, reescrever nossas vidas enquanto não conseguimos saber se a próxima página será escrita.
Aos meus amigos, o meu abraço fraterno e carinhoso para que possamos enfrentar a pandemia. Sabemos que não há ninguém bem e não há como estar. Nesta semana, chegamos ao infeliz número de 300 mil mortes por Covid-19 no Brasil. O maior gesto de amor que podemos dar ao próximo agora é o pedido de que se cuide, de que use máscara e álcool em gel. Sairemos dessa, cedo ou tarde. Mais tarde do que gostaríamos. Mas sairemos dessa. E brindaremos nossa amizade. É isso que gostaria de dizer aos meus amigos.