Grasiel Grasel
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Quem passa próximo do Parque da Oktober e tem vista para o Municipal não raramente poderá ver uma mulher e sua família dando várias voltas na pista no ritmo intenso de quem se prepara para uma competição. Quem vê Rejane Schilling Overbeck correr, então, acredita que ela deva ser uma experiente atleta de 59 anos, com muitos anos de corridas e maratonas no currículo. Espantoso é não apenas descobrir que ela começou a competir há menos de dois anos, mas que também já acumula um recorde estadual em sua categoria e uma passagem carimbada para participar da Maratona de Boston, um dos eventos de atletismo mais importantes do mundo.
Quem confirma a potencial de Rejane é ninguém menos que Fabiano Peçanha, atleta de Cruz Alta especializado em provas de meio-fundo, como os 800 metros rasos, conhecido por ter representado o Brasil nos Jogos Olímpicos de Pequim e por ter ganho a medalha de bronze nos Pan-Americanos de 2003 e 2007. “A Rejane é uma pessoa e um talento incrível. Se ela começasse no atletismo desde nova, ela poderia ter sido uma atleta de potencial olímpico!”, afirma Peçanha, líder do grupo “Infit Run”, do qual a família Overbeck faz parte desde maio do ano passado.
A santa-cruzense começou a competir em dezembro de 2017, convidada pelos filhos depois de contá-los que já concluía 15 voltas no Municipal em sua corrida casual. A primeira prova foi em Balneário Camboriú e, compreensivelmente, a vitória não veio, no entanto, a oportunidade serviu para motivá-la a continuar treinando até conquistar suas principais vitórias: 2º lugar geral na prova do Circuito dos Vales – Etapa Lajeado e os pódios do último fim de semana.
Na sexta-feira, dia 1º, a atleta correu no 15º Troféu Brasil de Atletismo Master, onde garantiu a 2ª colocação na categoria de 55 a 59 anos, bem como o 1º lugar no 33º Campeonato Estadual de Atletismo Master AVEGA, no qual também quebrou o recorde estabelecido com 23 minutos e 41 segundos. Já no domingo, dia 3, a santa-cruzense participou do Circuito Sesc de Corridas – Etapa Santa Cruz e levou o 1º lugar na categoria de 55 a 59 anos, garantindo a classificação para a Final do Circuito em Torres, no dia 1º de dezembro.
A aposentada, que hoje trabalha como cuidadora de crianças, treina e compete ao lado da família. Os filhos Marluci, Rodolfo e Édipo, bem como o genro Leandro e a nora Djéssica, fazem questão de acompanhá-la, formando um verdadeiro “circuito de motivação”, que dá forças para cada um deles se esforçarem cada vez mais. “É emocionante e gratificante ter a família junto no esporte”, afirma Rejane.
CORRENDO DO SEDENTARISMO
Ao perceber a necessidade de praticar esportes e se manter em atividade, a santa-cruzense diz que começou a buscar uma forma de fugir do sedentarismo, que hoje é tão comum a quem começa a se aproximar da terceira idade. “Comecei fazendo aulas de bike na academia e em questão de um ano perdi mais de 20kg, depois para manter comecei a correr, me apaixonei pelo esporte e fui deixando a bike, mas não por completo, vez ou outra ainda vou às aulas ou pedalo com meus filhos pela cidade e interior”, conta.
Para ela, não existe motivação maior do que as boas sensações e as inúmeras alegrias que o esporte já a proporcionou. “Saber que sou uma motivação para outras pessoas e conseguir ser a motivação para as pessoas mais importantes para mim, minha família, também é algo incrível”, diz Rejane, que também diz ser abordada com frequência por pessoas que querem saber sua idade e a elogiam por estar simplesmente praticando um esporte.
A cada prova que participa a família Overbeck se destaca de alguma forma, seja pelos pódios ou pela empolgada torcida que um tem pelo outro. A entrada dos filhos no esporte, motivados pela determinação da atleta, já garantiu frutos: Marluci conquistou o primeiro lugar da dupla feminina do Duathlon de Inverno 2019, em junho deste ano. “A participação dela que nos motivou a entrar no atletismo, e a união da família é o que nos mantém nele”, diz a filha.
Enquanto se prepara para competições futuras e, em especial, para a maratona de Boston, competição que faz parte dos 6 grandes “majors” de maratonas do mundo e é a mais antiga prova da categoria, bem como a primeira a ser concluída por uma mulher, Rejane segue sonhando com muitos novos anos de competição: “quero correr enquanto meu corpo permitir, participar de muitas outras competições, estipular novas metas, treinar e bater os meus recordes pessoais”, afirma a atleta.