A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou ontem, em Brasília, autorização para realização da segunda fase de desenvolvimento de vacina contra a covid-19, apoiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O ensaio clínico do estudo incluirá 300 homens e mulheres voluntários que preenchem os requisitos estabelecidos pela equipe técnica. Mulheres grávidas e que estão amamentando não vão participar.
“A Rna Mcti Cimatec HDT é baseada na tecnologia de RNA replicon (repRNA) auto amplificante, capaz de codificar a proteína Spike (S) do coronavírus, desenvolvida pela empresa americana HDT Bio. Corp. A plataforma repRNA difere das plataformas de vacina de RNA mensageiro (mRNA), disponíveis pelo potencial de gerar respostas imunes mais robustas, induzindo imunidade protetora a longo prazo e em níveis de dosagem mais baixos, com potencial para aplicação em uma única dose”, explicou a agência. O plano de desenvolvimento da vacina é feito de forma global e envolve as empresas HDT Bio (Estados Unidos), e Gennova Biopharmaceuticals (Índia), além do Senai Cimatec, sediado em Salvador e apoiado pelo Ministério da Ciência.
Já um estudo conduzido por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicou que o anticoagulante de uso oral Apixaban é eficaz para inibir a replicação do vírus Sars-CoV-2, causador da covid-19. Os resultados foram publicados no periódico científico Journal of Molecular Cell Biology e divulgados ontem pela fundação.
Os pesquisadores constataram que uma enzima importantíssima no processo de replicação do coronavírus tem uma semelhança estrutural com uma substância envolvida no processo de coagulação, o que faz com que o anticoagulante interfira na multiplicação do vírus. A Fiocruz explica que esse tipo de medicamento já era recomendado para prevenir níveis altos de Dímero D, que é o produto final da cascata de coagulação e está relacionado diretamente à covid-19 severa.
“O uso de anticoagulantes ajuda a prevenir a covid severa, e tínhamos a preocupação de descobrir se havia mecanismos adicionais para esse benefício clínico”, explicou à Agência Fiocruz de Notícias um dos autores do estudo, o pesquisador Thiago Moreno Souza, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz). “Esse trabalho mostra que sim e descreve como este mecanismo funciona, provando que essa atividade antiviral também pode estar contribuindo, em alguma magnitude, para o benefício clínico que esses pacientes têm”, disse.
Os cientistas envolvidos no estudo recomendam que a estrutura química do anticoagulante Apixaban seja avaliada de forma mais profunda para que se possa entender com precisão como funciona essa interferência na replicação viral. Compreender esse processo com mais precisão pode servir de ponto de partida para, no futuro, desenvolver antivirais específicos contra a covid-19.