Jéssica Ferreira
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O dia de ontem, quarta-feira, 6 de maio, foi de paralisação nas Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do Rio Grande do Sul. O atendimento foi somente de urgência em algumas instituições no estado, sendo suspensos quaisquer outros atendimentos via Sistema Único de Saúde (SUS). Foram também remarcadas consultas e reagendadas cirurgias e avaliações.
Conforme divulgações da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do estado, o objetivo da mobilização é chamar a atenção da comunidade sobre a escassez de recursos para a área da saúde. Foram 220 municípios no estado que aderiram ao movimento. Desde outubro de 2014, as 245 instituições de saúde sem fins lucrativos do estado deixaram de receber do Governo do Estado mais de R$ 207 milhões. As instituições empregam 65 mil funcionários e são responsáveis por mais de 70% de atendimentos variáveis do SUS.
“A partir de agora, caso a saúde não seja tratada com a prioridade que precisa, não haverá outra solução a não ser o fechamento de leitos, diminuição de assistência, demissões e outras formas de adequar as instituições à nova realidade de corte de recursos”, alertou Francisco Ferrer, presidente da Federação.
De 2015, há o corte de R$ 25 milhões mensais referente ao co-financiamento do Estado, sendo este o único recurso que realmente vinha sendo alocado para reduzir o déficit dos hospitais com o SUS — superior a R$ 400 milhões a cada ano, sendo, portanto, essenciais para o pleno funcionamento das instituições hospitalares. No dia 10 de março entidades ligadas à área de saúde estiveram em audiência com o governador Sartori, que abriu a possibilidade de negociação referente a esse valor, porém até o momento não houve medidas por parte do estado que encaminhassem resolutivamente esse assunto. Além disso, o secretário de Saúde, João Gabardo, divulgou à imprensa que só serão repassados os valores, quando houver “possibilidades” de caixa.
ANA NERY
Em Santa Cruz do Sul, a crise nos repasses do governo não está sendo diferente. O Hospital Ana Nery já na parte da manhã, às 8h30min realizou um ato de mobilização através de um abraço simbólico, ou seja, funcionários do hospital deram as mãos em frente ao prédio do Centro de Oncologia Integrado (COI), com o intuito de chamar a atenção da comunidade em virtude das dificuldades enfrentadas pela saúde. Está em aberto com o hospital R$ 1.085.180,40 (atendimentos acima do contratado e não pagos) referente a setembro de 2014 a março de 2015. Além disso, estão em falta também os incentivos do Governo Estadual, totalizando R$ 396.301,99 referentes a outubro de 2014 a abril de 2015.
Durante o dia o Hospital Ana Nery não realizou atendimentos eletivos pelo SUS, isto é, cirurgias e consultas no COI. As quimioterapias e radioterapias foram mantidas para que não fosse prejudicado o tratamento de nenhum paciente. Cerca de 18 cirurgias pelo SUS foram reagendadas, e 63 consultas no Ambulatório do COI foram transferidas. Segundo o diretor do hospital, Lídio Rauber, caso não haja alguma mudança, há riscos de fechamento de hospitais. “A finalidade da mobilização é alertar a grave situação dos hospitais. Vamos acabar ficando sem assistência nenhuma, arriscando a fechar as portas. Então estamos gritando não para o hospital em si, mas sim pela vida da população. Nossa preocupação maior tem sido em relação aos atendimentos às pessoas, e é inadmissível pegar dinheiro emprestado para as despesas do SUS”, declara.
Estiveram presentes no ato solidário do Hospital Ana Nery, integrantes do Movimento João da Silva, para que fosse entendido e estudado o que tem acontecido em relação à saúde e dar apoio à mobilização. “Estamos procurando nos integrar aos interesses da comunidade, além de estarmos atentos a esta situação e toda essa problemática com a falta de repasses do Estado, para a partir disso, cobrar do setor público uma ação em relação a este ponto que é fundamental”, conta Eduardo Wartchow, presidente do Movimento. A principal questão é o questionamento sobre a falta de repasses. “O governo deve atender à saúde, segurança e educação. São séries de altos impostos cobrados, e não há dinheiro para saúde? Então quer dizer que existe uma série de recursos sendo mal gastos e devem ser melhor alocados. Por isso deve-se analisar o que está acontecendo e cobrar do governo respostas”, finaliza.
Jéssica Ferreira
Abraço simbólico marcou o protesto no Hospital Ana Nery
HSC
Já o Hospital Santa Cruz (HSC), na parte da manhã, organizou uma reunião para tratar sobre a crise na saúde. No ato estiveram presentes representantes e funcionários, vereadores, alunos de Medicina da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), a diretoria da Apesc, o pró-reitor de Administração da Unisc, Jaime Laufer; o secretário da Saúde, Henrique Hermany e demais convidados.
No HSC, cerca de 83% dos atendimentos são realizados atualmente por meio do SUS. Segundo o diretor geral do hospital, Vilmar Thomé, o problema iniciou-se com as variações de acumuladas do SUS a partir do Plano Real. Para contornar, foram criados os “incentivos”, porém são planos políticos de cada governo, sendo assim, a real situação foi piorando. “Ali foi o ponto de partida do problema. Na atual conjuntura, a remuneração dos serviços não absorve todos os custos, sendo que atualmente, para cada R$ 100 gastos, o SUS remunera R$ 63”, explica.
Na oportunidade da reunião, o vereador Francisco Carlos Smidt declarou para os presentes na reunião que lamenta pela situação, e que apoia esta movimentação ao lado dos hospitais. “Problemas assim não podem continuar, é algo que pode ser pauta numa reunião na Câmara, assim como para nosso prefeito levar adiante”, declarou.
Além do apoio de alguns vereadores presentes, o secretário municipal de Saúde, Henrique Hermany, frisou que a situação exige uma atenção muito especial. “A situação é preocupante e por conta disso o município também se mobiliza. Estaremos presentes neste ato para lutar juntos e sim, como disse o vereador Carlos, será e já está sendo pautado. Inclusive ontem (terça-feira) havia conversado com o prefeito, que está à disposição dando esta atenção especial ao caso”, diz. O esperado, segundo o secretário, é que haja uma aproximação e respostas. “Queremos esta aproximação, vamos levar essas pautas, pois devemos buscar os recursos onde eles estão. Por isso, este é o momento, de aproximação e, sobretudo, união. Tudo pertence à comunidade, e devemos ir além para que haja equilíbrio. Todo o movimento que aponta melhorias para nosso município será sempre bem-vindo, pois esse é nosso objetivo”, finaliza.
A mobilização do dia 6 de maio é preparatória para a grande mobilização estadual programada para 13 de maio na frente do Palácio Piratini, em Porto Alegre, com representantes de instituições de todo o Estado. Nesta data será entregue ao governador do Estado uma notificação sobre a redução dos serviços prestados tendo em vista a redução orçamentária.
Jéssica Ferreira
Hospital Santa Cruz: para cada R$ 100 gastos, o SUS remunera R$ 63