Jéssica Ferreira
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Divulgação/RJ
“Palavra e Utopia” conta a trajetória do Padre Vieira, personagem interpretado por Lima Duarte
Em homenagem ao centenário do diretor português recentemente falecido, Manoel de Oliveira, com parceria da Associação Amigos do Cinema e do Sindibancários, será realizada a exibição do filme “Palavra e Utopia” (2000), com a participação especial do ator Lima Duarte. A sessão acontecerá na noite de hoje, às 20 horas, na Rua Sete de Setembro, 489, com entrada franca.
Essencial e indispensável, “Palavra e Utopia” reflete mais um belíssimo momento na obra de Manoel de Oliveira, diretor que possui uma trajetória única e ainda não plenamente reconhecida no panorama mundial, por navegar na contracorrente de padrões impostos, seja pelo cinema comercial, seja pelas vias mais óbvias do chamado cinema de arte, mas que, ao se aproximar de seu centenário, se encontra possuído de um desejo de filmar o que lhe dá na telha, sem procurar confrontar-se ou se encaixar em determinado estilo. E, como neste caso, utilizar-se da palavra para concretizar a utopia de um cinema rico e extremamente pessoal.
“Um estilo reduzido ao essencial”, e por isso entende-se um rigor quase franciscano na construção de planos e movimentos de câmera. Dentro de uma estética que muito se aproxima do cinema japonês clássico (Ozu, Mizoguchi), o filme é composto quase na totalidade por longos planos-sequência nos quais a câmera pouco se movimenta, o que fornece ao espectador a chance de uma fruição bastante íntima das cartas e sermões do padre Vieira (personagem de Lima Duarte), sem que esta economia de recursos de forma alguma se configure em tédio ou monotonia. Pelo contrário, instiga e fascina ao retratar de forma apaixonada a riqueza da prosa daquele que, mesmo preso às amarras do sacerdócio, da inquisição e da servidão a um estado colonialista, sempre se manifestou contra a escravidão (defendeu negros e índios), e contra a corrupção e burocracia das máquinas estatais e eclesiásticas. Vale aqui destacar, entre uma uniformidade de belíssimas sequências, aquela próxima do final durante a qual Vieira apresenta suas propostas (que ao fim serão negadas) a um conselho de sacerdotes, filmado como uma santa-ceia disposta de costas.