Semana passada escrevi sobre o abandono material e afetivo dos idosos pelos seus familiares. Hoje quero relatar duas histórias comovedoras que demonstram que ainda se encontra por aí senhores e senhoras de cabelos brancos que têm a sorte de receber de seus filhos e netos a manifestação de um coração agradecido.
Em Cordilheira Alta (SC), conheci Amarildo Tres que, após a morte de sua mãe, assumiu a responsabilidade de amparar seu pai na velhice. Quando perguntei o motivo que o levou a cuidar de seu pai – que faleceu dia 20, aos 93 anos de idade –, ele respondeu com lágrimas nos olhos: “Pai é pai!” Simples assim!
Em Porto Alegre, Fernando Aguzzoli abriu mão da vida que qualquer jovem de vinte e poucos anos leva para se tornar o “anjo da guarda” da vovó Nilva, que sofria de Alzheimer. “Passei de neto a pai da minha avó”, contou. Certa vez ele teve que convencê-la a usar fraldas. Os dois passaram uma tarde usando fraldas e rindo um do outro. Legal, né!? Eu pedi permissão ao Fernando para compartilhar alguns momentos (postados no Facebook Vovó Nilva) que ele passou com sua avó. Então, aí vai um bate-papo divertido entre os dois no elevador:
Fernando: O que está fazendo vó?
Vovó Nilva: Estou abanando…
Fernando: Eu sei, mas para quem?
Vovó Nilva: Para a senhora ali!
Fernando: Mas estamos sozinhos aqui, vó!
Vovó Nilva: Claro que não, ali tem uma senhora abanando de volta, olha!
Fernando: Ah, sim, agora vi! Aquela senhora ao lado de um bonito rapaz?
Vovó Nilva: Não, aquela ali de preto!
Fernando: É a única! Mas não é um bonito rapaz ao lado?
Vovó Nilva: É, nem tinha visto! Abana pra ela!
Fernando: É o teu reflexo no espelho, vó!
Vovó Nilva: Quem, eu? Olha ali, ela é bem mais velha!
Fernando: Claro, deve ter uns 80 anos, né?
Vovó Nilva: Sim, tadinha!
Fernando: Tadinha mesmo! Sorri e abana vó, abana!
Após o falecimento de vovó Nilva, Fernando postou em sua página no Facebook: “Cada vez que vejo uma avó levando o netinho para passear me lembro da minha ‘figurinha’. E quando vejo um neto esquecendo do tempo enquanto caminha de mãos dadas com seus avós, me recordo da nonna. Não há ‘buraco no peito’, pelo contrário, as lembranças me transbordam!”
Eis o segredo da felicidade na vida em família: amar os familiares enquanto estão por perto, pois saudade não será motivo suficiente para que eles voltem.