Um dos marcos, neste janeiro de 2021, foi a invasão da sede do Congresso dos Estados Unidos por manifestantes pró-Donald Trump. A tentativa era de interferir na certificação da eleição de Joe Biden como novo presidente, que tomará posse neste dia 20. Foi uma ação golpista desses manifestantes, um acontecimento que abalou a democracia norte-americana, como poucas vezes foi visto.
De fato, conforme parte da imprensa internacional apontou ao longo dos últimos anos, Trump representou, em seu mandato, uma ameaça à normalidade democrática. Como apontamos em editoriais recentes, a democracia dos Estados Unidos se baseia no liberalismo – político e econômico. Embora Trump seja um liberal do ponto de vista econômico, ele não respeitou a tradição política liberal dos norte-americanos.
O que representa o liberalismo econômico? Economia de mercado, capitalismo, redução do Estado. Até aí, Trump não traiu a tradição dos Estados Unidos. E o liberalismo político? Significa democracia, separação de poderes, desconcentração política. Neste ponto, Trump deixou bastante a desejar. Espera-se que Biden retome o ideal de liberalismo político, altamente democrático, preconizado desde a fundação dos Estados Unidos em 1776.
Que Biden possa respeitar a tradição, mas que também vá além dela. A potência norte-americana precisa aliar, ao liberalismo político-democrático característico dos Estados Unidos, uma socialização do capitalismo e das relações humanas. Isso significa respeito ao meio ambiente, à diversidade social, combate às desigualdades, dentro de um capitalismo mais humano e integrador. “Democracia” e “capitalismo social” são termos muito relevantes em época de pandemia e profunda crise econômica. Mas é preciso estender esses termos para além da pandemia e da intempérie financeira.