Luísa Ziemann
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Laços afetivos que ultrapassam a corrente sanguínea e o DNA. Em uma família distante de ser tradicional, o ingrediente primordial entre as relações é o amor. Kauã, de 12 anos; Pedro, 10; e Isabella, 7, são irmãos biológicos e passaram pelo processo de adoção. Hoje, os seus pais legais e os nomes na filiação em seus documentos são diferentes. Entretanto, seus sobrenomes são o mesmo e eles continuam convivendo em família. Isso porque os três foram adotados pela família Riede: Pedro pelo pai, Jorge Luís; Kauã pela filha mais nova de Jorge, Marcele; e Isabella pela primogênita, Nesele.
Os Riede conheceram os irmãos através da ligação de Jorge com a família materna das crianças. Mas foi pelo desejo de Marcele, que já estava na fila de espera por uma adoção há cinco anos, que tudo começou. “Sempre foi meu sonho. Entrei na fila com 21 anos de idade”, revela. “Quando adotei o Kauã, ele tinha 5 anos e um irmão de 3 anos, o Pedro, que ainda não estava para adoção. Nesse momento, a mãe biológica deles também já estava grávida da Isabella.”
Pedro morava na mesma cidade que Jorge e já convivia com ele. “Ele é sobrinho da minha companheira e as coisas foram acontecendo naturalmente. Primeiro ele vinha nos visitar, depois foi ficando alguns dias, depois semanas”, lembra. Em pouco tempo, foi se criando um laço afetivo entre os dois e, cerca de um ano após a perfilhação de Kauã, Jorge acabou ficando com a guarda do irmão mais novo, Pedro. “Para nós foi uma alegria ter os dois irmãos na mesma família”, recorda Marcele. “Minha irmã Nesele também estava na fila de adoção, mas nós nunca imaginávamos que a Isabella é que seria adotada por ela.”
Seis anos após Pedro e Kauã já fazerem parte da família Riede, foi a vez da irmã mais nova voltar a conviver com eles. “A adoção sempre foi algo natural em nossa família, por isso também sempre foi um desejo meu”, conta Nesele. “Quando entrei para a fila da adoção, em 2017, eu já tinha uma filha com 14 anos. Então a adoção era um sonho, mas não havia pressa. Até que, em 2022, nossa filha Isabella chegou.”
De acordo com Marcele, que reside em Vera Cruz com Kauã, o DNA divergente é um mero detalhe perto da união dos Riede. “Na nossa família já havia outros casos de adoção. Para nós o que mais importa não é o DNA. Somos muito gratos a Deus por esses presentes tão especiais em nossas vidas. Os três são crianças incríveis, amorosos, educados. E sempre nos chamaram de pai e mãe, desde o primeiro dia.”
Como os irmãos foram adotados já com a idade mais avançada, os três sabem de suas reais histórias. “Como eles sabem de tudo, também não se importam de contar que são adotados”, afirma Marcele. Atualmente Pedro e Isabella moram em Marcelino Ramos, cidade natal dos seus pais adotivos, Jorge e Nesele. No entanto, Kauã também faz visitas frequentes e continua convivendo com seus irmãos mais novos. “Apesar de não morarmos na mesma cidade, sempre que possível reunimos todos eles pra matar a saudades”, conta Marcele.
Vínculo e convivência entre os irmãos são mantidos
O principal desejo da família Riede ao adotar os irmãos biológicos – além de proporcionar a oportunidade de terem um novo lar – era fazer com que o vínculo familiar e, sobretudo, a convivência entre eles fosse mantida. “Desde que a Isabella foi adotada, ela e o Pedro moram na mesma cidade e estudam na mesma escola”, conta Marcele. “O Kauã conversa com eles pelo celular, fazem chamadas de vídeos com frequência. E, sempre que possível, fizemos o encontro deles. Eles se tratam e se chamam de irmão, existe uma ligação e um amor muito forte de um com outro.”
O mesmo sentimento existente entre aqueles que possuem o mesmo sangue acabou se criando com os pais adotivos. “Não houve uma ideia, uma programação ou um projeto de adoção. Pode parecer uma casualidade, mas eu acredito que tudo aconteceu por obra de Deus. Quem confia em Deus, aceita seus desígnios e agradece. Eu e minhas filhas aceitamos essa missão divina e somos gratos ao Senhor”, salienta Jorge, que adotou Pedro por conta do vínculo afetivo que criou com o menino, já que não estava na fila de adoção e nem pretendia ter mais filhos. “Estamos felizes e realizados por receber os três irmãos em nossa família. Tenho certeza que essa alegria é recíproca.”
“Crianças deram luz às nossas vidas”, afirma Jorge
Amor, respeito e gratidão. Se fosse preciso escolher os sentimentos que permeiam a família Riede, esses seriam os principais. “As três crianças já passaram por muitas coisas. Então eles dão muito valor para tudo. Quando o Kauã chegou, nós fizemos o primeiro aniversário dele. Ele não conhecia quase nada das coisas, como um balão surpresa, nem sabia como era um bolo de aniversário”, lembra Marcele. “Eles também nos adotaram. Nos tratam como pais desde o primeiro dia, independente de não termos gerado eles. Eles nos retribuem diariamente com amor. Não temos dúvidas de que o melhor para a vida deles foi ter entrado para a nossa família.”
Para o patriarca Jorge Riede, que acabou se tornando pai de Pedro e avô de Kauã e Isabella, sua família só tem a agradecer. “O sentimento dominante em mim e em minhas filhas é o de gratidão a Deus e de comprometimento com a Sua vontade. Estamos firmes e convictos de nossa missão”, destaca. “As crianças deram mais luz às nossas vidas. Ainda temos muito pela frente e mais grandes coisas estão por vir. Vamos fazer tudo que for possível para que o vínculo entre elas permaneça e se fortaleça cada vez mais.”