Vivemos em tempos onde temos que procurar diminuir distâncias entre as pessoas. Apesar do distanciamento sanitário necessário em função da pandemia que veio para ficar (Covid-19), as pessoas estão cada vez mais distantes. Aprenderam a viver sozinhas acompanhadas dos seus celulares e aplicativos de conversas quer escritas, ou em vídeo, ou ainda procurando uma aproximação ilusória nas famosas lives, porém permanecendo na mais pura e doce ilusão de que seguidores preenchem espaços de convívio fraterno e familiar.
Vemos pessoas caminhando na rua e digitando textos, sem olhar vitrines, ou apreciar a caminhada. Falta atenção nos cruzamentos e nos deparamos, inclusive, com motoristas que enquanto dirigem não largam o celular. Deixando as individualidades entramos no mundo dos profissionais. De todos os segmentos vemos profissionais que em seus escritórios, estúdios, consultórios, departamentos, enfim, no seu local de trabalho, igualmente não dispensam a companhia número um: o “sr. Smartphone”.
Converso com vários profissionais, quer a trabalho, quer como cliente e são raras as vezes que me encontro com os “desapegados” do celular. Por outro lado, ouço de amigos e clientes queixas que vão desde “não terem tido a atenção que esperavam em função do profissional estar dividindo seu tempo com duas pessoas, a presencial e a conexão”, até o absurdo de dizerem que durante o atendimento o profissional interrompeu de quatro a cinco vezes para atender o telefone.
Tempos modernos? O futuro é agora? Tecnologia de ponta? Necessidade de atender todos? Abraçar o mundo de uma vez? Diz o sábio que “nascemos sem nada, morremos sem levar nada e no espaço entre um e outro acontecimento, brigamos por fatos e coisas que muitas vezes não nos trazem bem-estar”, e aí você complementa com o que melhor se encaixa na sua situação.
Enquanto isso, em nossa profissão, devemos urgentemente revisar conceitos de atendimentos. As pessoas (clientes) que nos procuram trazem um problema e procuram um conciliador. Por vezes querem uma orientação para acalmar sua angústia, todavia com o respaldo jurídico, porém de forma a serem acolhidas como se em casa estivessem.
Quando se deparam com uma sala de espera lotada, um escritório luxuoso, uma mesa (escrivaninha) pomposa e flamejante e do outro lado um profissional dentro das mais famosas grifes dos pés à gravata tem sobre si mais ainda o peso da distância que separa o seu problema de uma possível solução. Quase relutam em prosseguir ou, o que é pior, criam uma expectativa de resolução para seu entrave diante do que vislumbram.
Assim, ganham espaços os profissionais que diminuem as distâncias com seus clientes atendendo-os na hora efetivamente marcada, desligando o celular no momento da consulta, se deslocando para verificar o conflito na sua origem e o mais importante, tratando o cliente como pessoa e não como uma fonte de renda. Agindo dessa maneira voltaremos, com certeza, ao tempo do “advogado de família”, ou aquele profissional que acompanhava todos os atos inerentes àquele cliente e as pessoas que o envolvem, condição essa cada vez mais rara.
Concluindo, o cliente que nos procura, acima de tudo, é uma pessoa que traz um conflito o qual vai ser resolvido de forma litigiosa ou consensual, onde nem sempre haverá vitoriosos ou vencidos, porém requerendo Advogado a mais absoluta dedicação pelo conhecimento que possui complementada com uma generosa dose de humanização do atendimento. O problema é personalíssimo do cliente e nós devemos nos dedicar de forma personalizada ou estaremos fadados, logo ali na frente, a sermos substituídos por “smartphones-advogados”.
Luiz Feldmann – advogado – OAB/RS 110.603