Nelson Treglia
Todo protagonista gera curiosidade. Imaginem, então, se o personagem for olímpico… É o caso do santa-cruzense Adilson da Silva, golfista que obteve classificação aos Jogos Olímpicos Rio 2016. Morador da África do Sul, terra de Nelson Mandela, Adilson vai representar o Brasil na Olimpíada que acontece em agosto. E, nesta entrevista ao ‘Riovale’, o leitor pode saciar sua curiosidade sobre este personagem tão particular, que recorda com carinho sua terra natal, e tornou-se um craque do golfe em outro continente.
Riovale Jornal – Adilson, como era sua vida em Santa Cruz do Sul? Conte-nos suas maiores lembranças da cidade e do que fazia aqui.
Adilson da Silva – Eu tinha uma vida muito alegre em Santa Cruz, vivendo com minha família, primos, meus amigos… Era uma vida bem simples mas muito divertida, a nossa família também era sempre muito unida, isto para mim significava tudo. Meus pais não tinham muito, mas nos deram o que chega: educação, carinho, atenção. Eles eram o nossos ídolos. Sinto muitas saudades deles! Também dos meus amigos e familiares. Tenho lembranças dos bailes que costumava ir com meus primos, irmãos e amigos, da Oktoberfest também. Quando nós éramos bem jovens, nós íamos pescar lá perto de casa quando chovia, adorava isto. Também de vez em quando íamos jogar futebol no Country na chuva e comer bergamotas.
RJ – Você foi morar na África do Sul. Como isso aconteceu?
Adilson da Silva – Fui para o Zimbabwe a primeira vez em 1990, agora moro na África do Sul. Eu era o ‘caddy’ (uma espécie de assessor do golfista) de um senhor do Zimbabwe que vinha todo ano na época de fumo (o fazendeiro Andy Edmondson). Depois de algum tempo, o Andy me convidou para ir ao Zimbabwe e me dar uma chance no golfe.
RJ – Como é a vida na África do Sul? É muito diferente de Santa Cruz?
Adilson da Silva – Sim, muito diferente, especialmente com o golfe, muitos campos bonitos e bastante gente joga. Nós moramos perto da cidade do Durban, chamado Salt Rock, talvez a 1km do mar, muito bonito o lugar, já estamos morando aqui por 14 anos. A comida também é um pouco diferente, mas muito boa, eles também comem muita carne por aqui.
RJ – Conte-nos um pouco da sua trajetória como golfista. Quais foram suas principais conquistas e realizações?
Adilson da Silva – No começo foi muito difícil. Quando cheguei no Zimbabwe, não sabia falar muito inglês. Estudava bastante durante a noite e treinava muito durante o dia. O Andy viajava muito e ficava em casa sozinho por muito tempo, então tive que aprender rápido.
Venci alguns torneios amadores no Zimbabwe e na África do Sul. Virei profissional em 1994/95 e também foi duro no começo. Neste jogo, você tem que viajar muito e, com isto, as despesas são grandes. Então você precisa de patrocinadores pra ajudar. Felizmente, no momento, tenho a ajuda da companhia chamada Rebel Safety Gear aqui na África do Sul e do Brasil, no momento, tenho o apoio das companhias YKP/Azeite 1492.
Já venci 12 vezes no circuito profissional da África do Sul, 18 vices e 89 vezes nos primeiros 10.
Joguei em três Britsh Open e representei o Brasil em duas Copas do Mundo, na Austrália e na China, e nos Jogos Pan-Americanos no Canadá. Agora tenho a chance de representar o Brasil nas Olimpíadas. Sou de muita sorte.
RJ – O golfe volta aos Jogos Olímpicos depois de mais de 100 anos afastado (a última vez foi em Saint Louis, em 1904). Como é representar o Brasil numa ocasião como esta? No masculino você será o único representante.
Adilson da Silva – Como mencionei acima, é uma ocasião muito especial. Cada vez que tenho a chance de representar o Brasil, fico muito feliz e honrado. Sim, vou ser o único no masculino. Tive bons resultados nos últimos meses e, assim, consegui acumular bastantes pontos para o Ranking Mundial.
RJ – Poderia deixar uma mensagem para Santa Cruz e para todos aqueles que aqui estão torcendo por você?
Adilson da Silva – Sinto muitas saudades de Santa Cruz, mas, cada vez que volto para visitar a minha família, me sinto feliz de ver que a cidade continua linda e sempre crescendo para melhor. Parabéns para todos os santa-cruzenses, e muito obrigado por torcer por mim. Vou fazer bastante esforço para representar a nossa cidade da melhor forma possível.
Também para minha família, muito obrigado por sempre me dar força. Para o Santa Cruz Country Club, abraço a todos os sócios e diretoria. Para meu amigo Lauro Garmatz e funcionários do Hotel Águas Claras Higienópolis, por me hospedar muitas vezes. Obrigado por tudo.
Para todos que me ajudaram até agora, muito obrigado.