Se atribui a Oscar Wilde a frase “a vida imita a arte mais do que a arte imita a vida”. Tal sentença nos faz pensar sobre um tema que atinge de forma muito grave o tecido social, que é a violência urbana em todas as suas formas. Seja no trânsito, no seio familiar ou no mundo do tráfico de drogas.
Não haverá certamente uma resposta conclusiva, mas que no presente texto, pretende-se abordar alguns elementos indicativos que possam justificar o enorme grau de insensibilidade que as relações humanas atingiram no mundo contemporâneo, em especial em uma semana marcada pela tragédia do Município de Saudades.
Quero crer que em boa parte da cultura do descartável, esteja muito ligada com a futilidade como é tratada a vida nas produções do cinema e na televisão, em especial, o cinema americano, que tem uma fissura inexplicável em mostrar sangue frente às telas. Diga-se que não há limite na explicitude da violência, sendo a vida algo descartável como qualquer objeto.
A saga da violência também não encontra limites nas novelas nacionais, onde poder e a transgressão estão ligados à capacidade do algoz em impor a suas vítimas tortura e a morte, sempre atrás do escudo hipotético de produções ingenuamente ficcionais.
Em um momento onde as produções audiovisuais de toda ordem, seja na tv, no cinema ou na internet, tomaram definitivamente o lugar da leitura, do esporte individual e em equipe, do aprendizado musical, da vida em comunidade e em família, e da própria religiosidade, pode se indicar que a frieza humana atual sofre reflexos desta carga diária e permanente das produções mórbidas em todos os tipos de telas, e que, acredito seja um elemento a ser considerado importante na produção de indivíduos cada dia mais distantes da dor e sofrimento alheio.
A suposta censura por limite de idade, é algo para inglês ver, pois não há possibilidade técnica para limitar o acesso ao banho de sangue para as crianças e pré-adolescentes, aliás grande parte dos jogos de videogame tem como principal meta matar o virtual “inimigo”, o que aliás já foi um método de dessensibilização dos soldados de exército americano, na guerra do Vietnã.
Assim, considero que a frase que deu início ao presente texto é algo que deve ser internalizado por todos os meios de comunicação de massa, em especial, os profissionais que militam no mundo da informação audiovisual, pois sua forma de enxergar o mundo é sem dúvida replicado, sendo sua responsabilidade social enorme, frente à substituição do método de transmissão da informação que vivemos em nossos dias, e os efeitos colaterais que todos estamos assistindo e sentindo literalmente na pele.