Entramos em uma nova década no ano de 2020, ou isso ocorrerá em 2021? Esta discussão é válida, mas não nos propomos a resolvê-la neste editorial. Fazendo um balanço da realidade nacional durante a década passada, a década de 2010, é inevitável lembrar dos protestos que parte da população realizou em 2013 e 2014. As manifestações pediam mais educação, saúde, fim da corrupção, enfim, uma série de demandas foram ressaltadas naquele período, e neste espaço, chegamos a elogiar esses protestos.
As manifestações apresentaram seus pontos negativos: houve muitos momentos de violência, por exemplo. Os participantes dos protestos defendiam uma posição antipartidária, evidenciando a decepção com os políticos, devido aos casos de corrupção que caracterizam a vida particular e pública do nosso país. Mas os campos à direita da nossa política, procuraram trazer para si a voz das manifestações, pois se tratava de uma forma “apropriada” de combater a esquerda que, naquele então, estava à frente do governo.
Em 2015 e 2016, com o avanço das investigações relacionadas à corrupção no governo, as manifestações já tinham um caráter claramente direitista, embora com uma roupagem antipartidária e nacionalista. Em 2016, aconteceu o impeachment e, em 2018, a eleição de um candidato da direita. Esta mudança ideológica no governo é, em grande parte, resultado do que ocorreu lá no início das manifestações, em 2013.
Curiosamente, em 2013, parte do simbolismo dos protestos estava relacionada ao personagem ‘V’, do filme de ‘V de Vingança’. Curiosamente, o autor do livro que serviu de base para o filme, Alan Moore, é um anarcocomunista. E a obra original, ‘V de Vingança’, é basicamente uma crítica ao governo britânico de Margaret Thatcher, um ícone da direita mundial nos anos 80. Vejam só como a vida é irônica.