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A vida é curta para ser pequena

Inauguro esta coluna do Riovale, aos sábados, com a alegria de quem começa uma tarefa nova e o friozinho na barriga que acompanha as empreitadas que oferecem riscos. O risco, no caso, é de não estar à altura dos leitores, que buscarei superar com bastante transpiração e alguma inspiração.
Aceitei o honroso convite do diretor André Dreher para ocupar este espaço pela convicção de ter algo a dizer sobre temas de interesse público, de poder contribuir um pouquinho para avaliação crítica da enorme carga de informações que todos recebemos diariamente. “Ter algo a dizer” não significa “ser dono da verdade”, mas apresentar uma opinião bem embasada. O fato de atuar na universidade proporciona condições para essa tarefa, preservada a humildade socrática de quem sabe que pouco sabe.
A opinião crítica aqui emitida por vezes confrontará o senso comum criado pela grande mídia e repercutida localmente, especialmente acerca de assuntos da seara política. Outras vezes buscará ampliar ideias e questões novas que a mídia traz. Ou temas que não são abordados. Uso a palavra “crítica” no seu sentido original, derivada do termo grego “krinein”, que significa “julgar”. O pensamento crítico é avaliativo, emite julgamentos e se preocupa com boa fundamentação e boa argumentação, não sendo necessariamente “do contra”.
Como estamos festejando a Páscoa, a festa cristã da ressurreição, resolvi intitular o primeiro artigo da coluna “Passo à frente” com a frase do político e escritor britânico Benjamin Disraeli. Vida breve não é o mesmo que vida pequena. A vida humana individual é relativamente breve, se consideramos, por exemplo, a longa jornada de 6 milhões de anos da vida no nosso planeta, ou o desejo de imortalidade que nos acompanha. Mas, é uma brevidade que hoje não é “tão breve” assim. Há estimativas de que no tempo de Jesus a expectativa de vida estava em torno de 30 a 40 anos. Atualmente no Brasil é de cerca de 75 anos. Estamos vivendo mais, embora a sensação de brevidade possa até ser maior.
A questão de fundo continua sendo a vida pequena, acomodada, ensimesmada, sem coragem de romper com a mesmice, de dar passos corajosos, de arriscar o novo. O que cada um de nós precisa responder cotidianamente é se estamos fazendo a vida valer a pena, se ela é grande ou pequena em termos dos valores que a impulsionam. Daqui a algumas décadas a esperança de vida ao nascer superará 100 anos, depois irá além, bem além. E a questão permanecerá.
Para todos, mesmo para quem não é cristão, a ressurreição é uma metáfora preciosa sobre o sentido da vida: como ressurgir sempre de novo face à tentação da vida pequena?