Semanas atrás escrevi o artigo que relatou a luta de Isabelle Marques para conquistar o título de princesa da 17a Fenarroz de Cachoeira do Sul. Após ler a coluna ela me enviou e-mail:
“Li seu artigo e fiquei muito feliz e agradecida, pois sei que minha história é uma inspiração para muitos jovens. Porém percebi que você o escreveu com base em trechos publicados na imprensa. Não quero ser desagradável, mas ouve um equívoco sobre o tamanho dos meus pés, pois não calço 41, e sim 39/40. Peço que, se possível, publique uma nota, retificando o erro, já que isto me colocou em grandes apertos”.
Ao ler o desabafo da Isabelle me lembrei da frase de certo filósofo: “A imprensa pode causar mais danos que a bomba atômica”.
Meu consolo é que nem mesmo os mais experientes jornalistas estão livres de erros. Olha só o que alguns já publicaram: “Nova terapia traz esperanças a todos os que morrem de câncer”. “Ela contraiu a doença quando ainda estava viva”. “Depois de algum tempo, a água corrente foi instalada no cemitério, para a satisfação dos habitantes”. “O cadáver foi encontrado morto dentro do carro”. “Os sete artistas compõem trio de talento”. “Parece que ela foi morta pelo seu assassino”. “Vítima foi estrangulada a golpes de facão”. “No corredor do hospital psiquiátrico, os doentes corriam como loucos”. “O homem, antes de apertar o pescoço da mulher até a morte, se suicidou”. “Prefeito vai dormir bem, e acorda morto”. “Foi encontrado o corpo de um jovem cortado em pedaços. Parece se tratar de suicídio”.
Você achou engraçado? O problema é quando o repórter dá um jeito de mudar o sentido da frase:
Em julho de 1987 desembarquei em Belo Horizonte e fui direto para o Mineirão para assistir ao clássico Atlético e América. Eu me apresentaria no dia seguinte ao técnico Palhinha e ao preparado físico Ithon Fritzen (aquele campeão mundial pelo Grêmio em 1983). Ainda no estádio, um repórter da Rádio Itatiaia me entrevistou:
– Estou aqui com Sérgio Almeida, 21 anos, novo jogador do Galo. Sérgio, o que você está achando do jogo?
– A partida está disputada, mas o Atlético devia arriscar um pouco mais no ataque – respondi ingenuamente.
No dia seguinte saiu no jornal Estado de Minas: “Novo centroavante do Galo diz que o time não tem ataque”.
Daquele dia em diante eu concluí que a vida é como uma cana: só dá açúcar depois de passar por apertos.