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A trajetória de pequenos-grandes guerreiros

Conheça as histórias de Laila, de 11 meses, e Davi, de 4 anos, que lutam desde bebês contra tumores do mal do século: o câncer

Foto: Luísa Ziemann

LUÍSA ZIEMANN – [email protected]

Considerada a moléstia do século, o câncer é o mal de todas as classes. Não escolhe gênero, nem raça, nem condição financeira. Enquanto a ciência não encontra a cura para os mais de 100 tipos de câncer existentes, essa doença traiçoeira acaba encerrando sonhos cedo demais. Se em adultos e até mesmo idosos, a dor é imensurável, o que falar quando a enfermidade atinge crianças que – ainda tão pequenas e cheias de vida pela frente -, acabam reféns de tratamentos exaustivos e precisam lutar para se manter de pé?


De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), em todo o Brasil são registrados 12 mil novos casos de câncer infantil ao ano. É o caso dos pequenos Davi, de 4 anos, e Laila, de apenas 11 meses. Ambos foram diagnosticados com tumores e recebem auxílio do Instituto do Câncer Infantil Silvia Sander (Silder). Laila Ariely Beskow – que completou 11 meses na última quarta-feira, dia 11 – foi diagnosticada no dia 9 de dezembro com um tumor na cabeça.


A notícia pegou a família de surpresa. “Como ele já esta estava em um estágio bem avançado, no dia 12 de dezembro foi realizada a cirurgia para remoção”, conta a mãe, Elena Lindner, que junto do marido, Erci Beskow, agora dedicam seu tempo exclusivamente aos cuidados da pequena. “Ocorreu tudo bem, e a Laila ficou sem nenhuma sequela graças à Deus. Mas alguns dias depois, em exames de rotina, foi encontrado mais um pequeno tumor entre a nuca e a coluna.”


Conforme Elena, a bebê começou o tratamento com quimioterapia no Hospital da Criança Santo Antônio, em Porto Alegre, ainda no mês passado. Por conta disso, a família, que é de Capitão, teve que se mudar para uma pensão na capital. “Tudo em nossa vida mudou de repente. Eu não pude renovar meu contrato de trabalho para poder acompanhar a Laila. Meu marido estava de férias, agora pegou mais uns dias, mas se continuar assim vai ter que parar de trabalhar também. No momento não podemos sair de Porto Alegre, temos que ficar perto do hospital.”


Para conseguir custear a estadia de Laila e dos pais na capital, o Instituto Silder deu início a uma campanha para arrecadar doações. “O valor arrecadado servirá para conseguirmos nos manter em Porto Alegre”, explica Elena. “Não temos condições de pagar a pensão que estamos e comprar comida.” Quem tiver interesse em ajudar pode doar qualquer valor diretamente através do PIX da instituição: [email protected]. De acordo com a presidente da entidade beneficente no Vale do Rio Pardo, Mara Graziela Etges, a Silver auxilia crianças diagnosticadas com câncer e suas famílias de maneira assistencial, através de ajuda jurídica, encaminhamentos e captação de recursos através de doações.

Laila foi diagnosticada em dezembro
Divulgação/RJ


O caso de Davi também é delicado. Há mais de três anos ele e a família, que são naturais de Vera Cruz, lutam contra o retinoblastoma – um câncer que se desenvolve quando as células nervosas da retina sofrem mutações genéticas que as fazem continuar crescendo e se multiplicando – detectado na criança. É um dos tipos mais comuns de câncer que acomete os olhos na infância, podendo estar presente desde o nascimento ou aparecer até os cinco anos de idade. No caso do pequeno vera-cruzense, a doença começou a se manifestar por volta dos seis meses de idade – mas demorou a ser diagnosticada.


DIAGNÓSTICO TARDIO

Conforme a mãe do menino, Ivani de Oliveira dos Santos Braga, alguns meses após o nascimento de Davi uma pequena bolinha branca – semelhante a uma bolinha de sagu – apareceu no olho direito da criança. “No início não demos muita bola, não sabíamos o que era, nunca tínhamos visto nada parecido e achamos que pudesse ser um sinal de nascença”, conta. “Como a bolinha saía e aparecia novamente, víamos quando íamos dar comida para o Davi e às vezes ela não estava lá, fomos deixando.”

Davi removeu tumor em julho
Luísa Ziemann


Ivani lembra que a tal bolinha começou a chamar atenção quando Davi passou a frequentar a creche. “Sempre tivemos uma vida difícil, morávamos de favor no terreno do meu sogro, no interior de Vera Cruz, em Entre Rios, e por conta da distância tudo era complicado. Foi por isso que decidimos alugar um chalé na área central de Vera Cruz, eu lutei por uma vaga na creche para o Davi e também consegui um emprego”, conta. “Só que logo ele começou a frequentar a escolinha, se repetiam as cenas de choro, todos os dias. As professoras me ligavam contando que ele estava chorando sem parar, que escondia o rosto. Várias vezes eu tive que sair do trabalho para ir buscar ele.”


Como a situação se repetia com frequência, a mãe acabou perdendo o emprego, enquanto Davi não interagia com os colegas, não brincava e, por último, se negava até a comer. “Eu levei ele em vários médicos, ninguém resolvia. Deram colírios, remédios, diziam que ia passar. Mas o problema continuava.” Como a família é humilde, tinham que recorrer aos médicos do SUS e, por conta da fila de espera, as consultas demoravam a acontecer. Depois de muita insistência a família conseguiu um encaminhamento de Davi para Porto Alegre, onde ele consultou com um oftalmologista no Hospital Banco de Olhos. E foi somente cerca de dois anos depois da primeira consulta em busca de uma solução para o problema no olho de Davi que o diagnóstico correto apareceu.

Dificuldades financeiras acompanham o percurso da família

Quando Davi estava com cerca de dois anos e meio, a má notícia. A pequena bolinha no olho direito do menino se tratava de um tumor maligno: retinoblastoma. “Nesse momento nossa luta, que dura até hoje, começou. Foram dezenas e dezenas de exames, madrugadas indo com a van da Prefeitura de Vera Cruz para Porto Alegre, noites em claro e muita angústia”, lembra Ivani. “Além de muitos gastos. O acompanhamento era feito pelo SUS, mas sempre gastamos com deslocamentos, remédios.”


Como o pequeno Davi precisava estar frequentemente no Banco de Olhos e a família já não conseguia dar conta de tantas viagens do interior de Vera Cruz à capital, Ivani e o marido decidiram se mudar para Novo Hamburgo – o que facilitaria o deslocamento até o hospital e diminuiria os custos. “Foram seis meses de quimioterapia, em julho do ano passado teve a cirurgia de retirada do olho e mais 25 sessões de radioterapia. Isso fora as visitas de rotina aos médicos que fazem o acompanhamento do caso. Vivemos em função da busca da cura do Davi.”


Por conta disso, Ivani não consegue arrumar um emprego fixo – bem como o marido, pai de Davi, Oniro Júnior dos Santos Braga. Ambos fazem o máximo que podem para sustentar a família. “Um patrão quer ser empregado trabalhado. Quem vai assinar a carteira de quem precisa faltar serviço ou sair toda hora? É por isso que o Oniro acaba trabalhando somente sem carteira assinada, fazendo bicos.” Para sobreviver, pagar as contas e ainda custear os gastos com a doença de Davi, o casal também promove jantares e outros eventos. “Dessa forma conseguimos juntar algum dinheiro. Também sempre contamos com a ajuda de amigos e colegas do Oniro. Não desistimos nunca.”


Atualmente Davi realiza acompanhamento semanal no Banco de Olhos, por vezes frequenta o hospital até duas ou três vezes na semana. Além da equipe médica que cuida do seu tratamento para o câncer, outros profissionais da saúde também fazem parte da rotina do menino. Nutricionista, fonoaudiólogo, psicólogo. Todos os encaminhamentos foram feitos pela rede pública de saúde, bem como os medicamentos necessários no seu dia a dia, que foram adquiridos através de ações judiciais.


Porém, a família ainda precisa se manter próxima da capital para que tudo isso se realize e, hoje, mora em uma casa alugada em Sapucaia do Sul. “Como todo o tratamento do Davi é em Porto Alegre, não conseguimos voltar a morar em Vera Cruz. Ainda precisamos pagar aluguel por aqui e sobreviver de bicos”, explica Ivani. “Também fizemos o encaminhamento para que ele receba uma prótese para o olho e, por conta disso, ele está fazendo exames toda semana. Estamos aguardando o desenrolar dessa situação, pois essa prótese iria auxiliar o Davi na questão estética. Logo ele vai ter que voltar para a escola, e pode sofrer bullying.”

RIFA PARA ARRECADAR RECURSOS

No meio de tantas lutas e desafios, a família de Davi encontrou verdadeiros anjos pelo caminho. De acordo com Ivani, os amigos e conhecidos, por diversas vezes, uniram forças para ajudar financeiramente com as idas à Porto Alegre, ou com as despesas com fraldas e alimentação. Mais recentemente, a família recebeu a doação de um veículo. O carro será o primeiro prêmio de uma rifa beneficiente criada para arrecadar fundos.


O valor da rifa é de R$ 35 e, além de um Palio 2001, tem como prêmios: uma camiseta do Grêmio autografada pelo Danrlei, uma camiseta do Internacional autografada por todos os jogadores, uma camiseta do Aimoré e uma pizza tamanho família da Master Pizza. O sorteio será realizado no dia 15 de abril, pela Loteria Federal, e os cupons podem ser encontrados com Mara, do Instituto Silder – (51) 999563327 – ou na sede do Riovale Jornal.

INSTITUTO SILDER

O Instituto Silder foi idealizado e fundado por Lucas Sander, que em 2009, com apenas 14 anos de idade, foi diagnosticado com um tumor que lhe impedia de comer e teve de passar por operação muito delicada para sua retirada, onde levou mais de 1.800 pontos em todo rosto e 5 platinas para reconstrução óssea. Em 2012, foi a mãe de Sander, Silvia, que descobriu 28 tumores em todo corpo. A doença tomou conta dos pulmões, coluna, estrutura óssea entre outras partes e bastou apenas nove meses para o câncer encerrar com a vida de Silvia.


Sander, que já ministrava palestras em diversos países e estados brasileiros, decidiu transformar toda a sua dor em uma ação beneficente. Foi aí que idealizou e criou o Instituto do Câncer Infantil Silvia Sander (Silder), que leva o nome de sua mãe em forma de homenagem. A instituição trabalha com a missão assistencial de dar o apoio necessário às famílias que lutam contra essa doença.