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A responsabilidade social na pandemia

Por mais que analistas e especialistas ou qualquer pessoa que pense que possa prever cenários econômicos, neste momento não se pode desconsiderar que o ser humano é muito frágil e as condições de sua vida podem mudar a qualquer momento. Dizemos isso sem qualquer conotação religiosa. É uma constatação física, de risco de contaminação e morte reais, que impõem que nos adaptemos a uma nova realidade. Esta mudança trazida com a obrigação do isolamento social nos faz ter que criar a condição de adaptação a uma nova realidade, e por isso sofremos. Não somos seres 100% resilientes.
Sofremos, pois não estamos acostumados a uma mudança tão rápida e drástica. As transformações feitas ao longo da vida não são – em sua maioria – repentinas como esta de agora. Teremos que repensar tudo, desde as formas de interação social até a capacidade de acatar as determinações de autoridades sanitárias para preservar a vida. Nossa geração nunca viu isso, talvez os nossos avós e bisavós, sim, sobretudo nas guerras.
Estamos vivenciando esta nova situação de uma posição muito próxima. O coronavírus não está distante, somente em outros países. Está aqui, no nosso dia a dia, convivemos com ele e os riscos que o Covid-19 carrega. Estamos em uma nova realidade e por isso precisamos pensar nas relações de trabalho, na falta de renda do trabalhador. As empresas precisam pensar na relevância social a qual elas têm grande responsabilidade em garantir.
A Fentifumo acompanhou as negociações junto com seus Sindicatos filiados com todas as empresas. Acompanhamos também todas as medidas e as ações que foram tomadas, primeiro para garantir a saúde física dos trabalhadores, mas também buscou garantir junto às empresas, a saúde financeira do trabalhador.
Muitas organizações apregoam, em cenários favoráveis, no tempo comum, que pensam no próximo, que praticam a responsabilidade social. Aí quando aprece uma crise como esta, pensam em suspender salários. O trabalhador não precisa comer, não tem que receber? Certamente, a maioria dos assalariados não têm reservas financeiras, sem elas, faz-se o quê?
A suspensão de contratos por quatro meses, como simplesmente foi sugerida pelo governo federal é direta: suspenda o trabalho por quatro meses sem pagamento de salário. Ainda bem que foi revogado este decreto. Será que não seria mais justa e sensata a suspensão temporária do pagamento de impostos pelos empregadores e dar condições para que sigam pagando salários? É fácil para as empresas suspenderem contratos e não pagarem salários. O governo segue arrecadando impostos. E ao trabalhador resta o quê? Passar necessidades? É comprovado por diversos estudos que a fome estimular a violência, pois quem fica sem renda, além do no desespero, tem que passar pela humilhação de ter que pedir ajuda de porta em porta. A falta de renda fere a dignidade de qualquer trabalhador.
Esta nova realidade é desafiadora e ninguém está preparado para ela. Estamos tendo que aprender. Esta grande novidade nos mostrará, realmente, como são as organizações responsáveis. Elas também não têm culpa desta situação, mas precisam entender que para permanecerem ativas em seus negócios precisam pensar no trabalhador, que é o elo mais fraco nesta relação contratual.
O governo aguenta sem arrecadar tributos, a empresa também, pois a maioria tem fluxo de caixa para esperar um pouco pelo dinheiro das vendas e das exportações que serão retomadas logo mais. Mas o trabalhador sem sua renda mensal não aguenta 30 dias.
Esperamos que os discursos das empresas que usam os conceitos de sustentabilidade se sustentem neste momento. A sustentabilidade é ancorada no tripé Econômico, Social e Ambiental. Em um cenário normal eles dizem que aplicam essa Sustentabilidade, mas e agora? O viés ambiental se torna um pouco irrelevante neste momento de crise. O Econômico, certamente sai abalado. E o Social, fica de que jeito?
Suspender o contrato pode condenar o trabalhador a uma situação trágica. Esperamos que isso seja evitado. Demissão não deveria ser a primeira opção do empregador. No momento de fartura, os recursos humanos são preciosos, mas nos momentos de crise são descartados? Que a gente reveja as relações de empresa e trabalhador de uma forma positiva, e que a gente possa achar, em conjunto, a melhor forma de minimizar, para todos, esta situação sem precedentes em nosso tempo. A Fentifumo conclama às empresas para que possamos juntos buscarmos os melhores caminhos que sejam benéficos a todos.

Gualter Baptista Júnior – presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Fumo e Afins (Fentifumo) e Mestre em Administração