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A relação adolescência/estudo

No mundo atual dispomos de inúmeras possibilidades de entretenimento, graças às tecnologias e aos ambientes envolventes de recreação, os quais se proliferam numa velocidade tremenda. Tudo isso é uma dádiva para o mundo moderno, sem dúvida. Contudo, vemos muito de sua fruição ocorrendo de forma desequilibrada e não discernida, o que poderá incorrer no futuro em muitos problemas.
No meu entendimento, é bem visível na atualidade que grande parte desse aparato tecnológico tem servido como instrumento inibidor e alienador do discernimento frente aos estudos, e por quê? Porque gera prazer, e estudar não é prazeroso (isso para uma boa parte dos estudantes, pois existem exceções, é claro).
Atualmente as realidades virtuais, assim como os diversos programas e ambientes de entretenimento disponibilizados pelas tecnologias, servem como encantadores meios de produção de prazeres e são consumidos em larga escala pelos adolescentes, pois é justamente na adolescência que se tem em maior grau a necessidade de chamar a atenção, o que pressupõe ‘ser reconhecido’ – ora, prazer e reconhecimento estão intimamente relacionados. Entretanto, o reconhecimento nem sempre é fácil na realidade concreta diária – verdade seja dita, atingi-lo é muito difícil. Nesse viés, quando se dispõe de uma ferramenta virtual como a Rede Social, tem-se a oportunidade de “desenhar” com maior perfeição uma imagem de si mesmo, a qual permite maiores possibilidades de reconhecimento. No entanto, essa imagem muitas vezes ilustra características fictícias e/ou ilusórias, o que mais cedo ou mais tarde desemboca em problemas referentes à autenticidade individual, os quais podem, por sua vez, comprometer o reconhecimento almejado.
Os jogos de videogames também permitem atingir esse prazeroso reconhecimento, mas ele é só ficcional, dado que os sujeitos que reconhecem o heroísmo do indivíduo que joga, que pelas batalhas épicas torna-se o salvador do mundo, são sujeitos não existentes na realidade concreta, são sujeitos apenas virtuais.
Em minha opinião, todo esse enorme aparato tecnológico, que confere possibilidades mais imediatas de reconhecimento e prazer, mesmo que virtual, está tão à disposição dos adolescentes que acaba por ser usufruído copiosamente por eles.  Acontece que o ato de estudar, nessa realidade ‘adolescentiana’ hedonista, surge como uma atividade que ocupa um ínterim, um tempo entendido como “minutos de interrupção da maximização do prazer”; ou seja, estudar adquire o status de “que saco!”.
Nessa condição, o estudo (a própria educação) só consegue sobreviver pela obrigatoriedade institucional que lhe é conferido, e passa a ser entendido pelos adolescentes (por grande parte da população, em geral) não como um fim em si mesmo, mas como um meio forçoso e doloroso para se atingir um fim, que é o mercado de trabalho – assim, numa relação sujeito/objeto, o mercado de trabalho ocupa o papel de sujeito e o estudo, de objeto.
Então, o que fazer para que o ato de estudar não sofra, pela cabeça do adolescente, de “complexo de patinho feio”? O que fazer para que não seja rebaixado ao patamar de “coisa chata”? Muitos dizem que não há receita ou fórmula para que se tenha um proveito mais vantajoso na aprendizagem, na educação, no estudo diário. Ao meu ver há sim, e é bem clara, senão vejamos:
a)    Uma boa pitada de limites que possam ensinar as crianças a adiar seus desejos e/ou prazeres imediatos – pois a vida nos coloca momentos dolorosos, que só são suportados quando se tem a predisposição em enfrentar as dificuldades, e a busca pelos prazeres imediatos tem um grande potencial de nos fazer fugir das dificuldades;
b)    Uma boa pitada de realidade, das coisas como elas são de fato – pois é muito fácil presumir que a vida transcorra numa linda torre de marfim, onde o prazer, o glamour e o reconhecimento são constantes, onde os questionamentos e os envolvimentos sociais estão desvinculados dos problemas e preocupações práticas do dia-a-dia.
Nesse viés, creio, a aprendizagem é haurida no terreno da realidade concreta, propicia maior poder de enfrentamento da temporalidade e das dificuldades e incorre em condições subjetivas mais voltadas ao esclarecimento, à criticidade e à politização da existência individual – o gosto pelo estudo, pelo trabalho e pela realização na (da) própria vida, surge como consequência dessa aprendizagem.