Dias atrás, após uma piada imprudente e até de mau gosto de um professor, fiquei sabendo que Santa Cruz do Sul já contava com uma sucursal do Gabinete do Ódio. Para quem chegou agora de Marte, trata-se de uma estrutura montada nas redes sociais por partidários do atual presidente da República, com participação dos seus filhos, para a guerra política na internet, focada na destruição de pessoas e de fatos.
Não mais que de repente, formou-se um exército de navegadores para o ataque ao professor e à instituição onde trabalha. Mobilização que tinha origem em um grupo formado anteriormente na internet com essa operacionalidade, mas que não vem ao caso. Só lembrei porque se aproximam as eleições municipais e é normal que os candidatos acelerem as manobras de bastidores e comecem a formar suas equipes, faz parte da beleza da Democracia. Mas o fato que relatei assim meio por cima, só como exemplo, dá conta de que também há candidato lubrificando e ajustando a máquina de propaganda nos moldes da pior política brasileira recente: a do insulto e do linchamento, mobilizando a capacidade de odiar que há em todos nós e que nada agrega à “estética” da Democracia. Ao contrário, a torna mais violenta e irracional.
A boa notícia, no entanto, é que após obter algum sucesso e impacto nas redes sociais, repercutindo inclusive na mídia tradicional, a raivosa mobilização foi rapidamente perdendo crédito na sociedade, que de um modo geral desinteressou-se por ela, sumariamente engolida pela linha do tempo. Acho que não somos mais os mesmos, tão ingênuos e propensos a embarcar em qualquer “oba-oba”, só para diluir a bílis. Já sofremos o suficiente nas mãos de manipuladores do ódio alheio e as ondas não colam mais como colavam antes. As pessoas já desconfiam que estão sendo manipuladas com propósitos políticos.
Ainda há muita ingenuidade, é verdade, principalmente do tipo “copia-e-cola”, que passa adiante mensagens falsamente casuais que na verdade trazem marketing embutido ou posições políticas que não foram devidamente detectadas ou interpretadas. Mas a fala de ódio explícito, já se nota, não tem mais a mesma aceitação. E isso é ótimo.
Em escala histórica, somos novatos. Digo como habitantes do virtual, aqueles que deixam ali parte importante de seu tempo de vida diário. Aos poucos vamos desenvolvendo anticorpos para ameaças e epidemias que se formam lá dentro. As malícias são muitas e variadas e os antivírus e firewalls convencionais são insuficientes para detectá-las e combatê-las. Nossas proteções estão em nós mesmos, abandonarmos a passividade e a ingenuidade perante a mensagem e agirmos sempre pautados pelos nossos princípios basilares, humanos. Honestidade, fraternidade, ponderação, respeito e tolerância na diversidade são alguns deles e talvez os mais requeridos para guiar-nos e proteger-nos do caos e da guerra improdutiva. O ódio é o combustível perfeito para a manipulação política.