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A profundidade de uma novela

Um dos tantos sucessos da TV Globo foi a novela ‘O Clone’, exibida entre 2001 e 2002, e reprisada nos últimos tempos pelo canal Viva. Podemos ir um pouco além do tema principal da novela, a questão da clonagem, bastante polêmica à época (alguém ainda lembra da ovelha Dolly, nascida em 1996?). A trilha sonora de ‘O Clone’ conta com cantores como Elton John, Alessandro Safina, Andrea Bocelli e Sting, o que demonstra, de fato, o acesso do grande público à cultura.

Na novela, há sem dúvida uma mistura entre o teocêntrico (Deus no centro) e o antropocêntrico (o ser humano no centro), em um trabalho interessante de uma das maiores autoras da Globo, Glória Perez, e do diretor Jayme Monjardim. Na abordagem antropocêntrica, percebe-se reminiscências dos anos 90: a sensualidade, a ‘dance music’ como forte expressão da sexualidade… Algo que se perdeu nos últimos anos. Parece que, nos últimos anos, se retomou uma culpabilidade em relação à sensualidade, o que indica um benefício e um prejuízo ao mesmo tempo, mas, enfim, este tema requer um tratamento específico. Em ‘O Clone’, a sensualidade está expressa, também, em mulheres muito interessantes, como Vera Fischer, Daniela Escobar, Letícia Sabatella e Giovanna Antonelli.

Aliás, o tema principal da novela, a clonagem, coloca o personagem interpretado pelo grande ator Juca de Oliveira em um plano bastante complicado: deus e homem, ao mesmo tempo, criador do clone interpretado por Murilo Benício. Isso nos leva de volta à dualidade antropocêntrica/teocêntrica. Curiosidade: um admirador de Juca de Oliveira é o jornalista e filósofo gaúcho Ruy Carlos Ostermann (por sinal, os dois se expressam de forma parecida).

As telenovelas são muito criticadas, às vezes com razão, outras vezes nem tanto, mas são uma possibilidade de fácil acesso à cultura para as massas. Claro que a audiência caiu nos últimos anos (devido à internet), mas as novelas ainda são muito assistidas.