Pai e filha, frente a frente. Olho a olho, Mais de 100 minutos de pavimentação da via conciliatória.
Percepção crescente das limitações do Estado-jurisdição e do quão importante é costurar o direito com outras áreas do saber e fazer o emprego de técnicas alternativas de solução de conflitos.
A todo o momento o pai reclamava que sua filha apenas lhe enviava mensagens para pedir dinheiro e nunca perguntava como ele estava. Principalmente, como ele se sentia! Solução que queria forçar uma relação.
Ele chegou a admitir que o processo foi a solução que encontrou para estar perto de sua filha, de manter contato com ela, de saber como estava.
Convidei Lya Luft e ela veio com o seu ‘Para Não Dizer Adeus’, falando do sentimento de ter os braços amarrados, de não poder apertar os filhos ao peito, como quando eram pequenos, da ilusão perdida de que eram só nossos.
Ele discorreu sobre seus sonhos, sem perceber que sangravam pesadelos. Foi interrompido por Carpinejar, evocando que ‘pai separado sempre está sob a ameaça de despejo, de ser trocado ou de ser esquecido.
O saudoso Quintana chegou de mansinho, oferecendo seu ‘Espelho Mágico’, recitando o ‘Amoroso Esquecimento’: Eu, agora, – que desfecho! Já nem penso mais em ti….Mas será que nunca deixo de lembrar que te esqueci?”
Percebi no Pai a estratégia de ter sua filha a partir da formulação de um estado de dependência.
Uma utopia. Um tiro no pé. Na Família moderno o autoritarismo e o egoísmo devem ceder espaço à efetividade. À autoridade cabe dar de mão ao amor, ao carinho, ao cuidado e ao respeito.
Quanto mais cinchado for o trato, maior será a resistência, mais frequentes serão os arranhões, mais evidente a insatisfação, maior o risco de o conflito ser amplificado.
A dependência escraviza e revolta, sobretudo em uma quadra da vida (no pórtico da adolescência) em que o sonho da liberdade plena parece possível, onde nos deparamos com a antítese, que varre as certezas das teses como um tufão tropical.
O “diálogo” imposto não dá eco. O whatsapp artificialmente gestado não cria afeto.
Mais do que um pagador de pensão, o pai tem que ser um formador, um guardião, um anjo protetor, um agente disciplinador e de contenção/ interdição. Fundamental incorporar a filha ao seu mundo de afeto, carinho e amor
A audiência caminhou para o fim e Lya Luft pediu a palavra: Um amor precisa espaço de voar, liberdade para querer ficar, alegria, e algum desassossego contra o tédio. Não se esqueçam os danos a cobrir. O medo de partir, e o dom de surpreender, que é a sua essência.’
Desejei à raiz e ao seu fruto se reencontrem no labirinto das suas idiossincrasias, não mais se perdendo no vagão do tempo que não volta às plataformas passadas. Que não deixem para amanhã. Que se reencontrem na próxima esquina – com a êxtase do primeiro encontro; Que se perdoem. Que conversem. Que se ouçam. Que se reconquistem.
Eles se levantaram, com a garanta seca, a voz embargada, mãos e pernas trêmulas e se abraçaram longa e apertadamente próximos à porta de saída.
Dei um tempo, expiei-os pela janela. Seguiam os três, lado a lado. Carpinejar recitando ‘Que pai não segurou sua filha recém-nascida com temor, sem a aptidão do seio, sem o selo da carne? Indo para trás, como se os passos fossem aumentar o corpo, indo para trás a formar a concha no colo, indo para trás a criar rapidamente cavidade no peito. O medo de apertá-la forte e machucá-la ou o medo de afrouxar e deixá-la cair. Até para ficar em pé com o filho, o homem tem que se preparar.’