Não podemos esquecer que por detrás de todo esse teatro existe um agronegócio exportador que está vivendo um paraíso na Terra, assim como os demais exportadores de commodities, o que se reflete em toda a cadeia, inclusive para os que não exportam diretamente. Está no preço dos produtos quando o consumidor brasileiro quer comprar, mesmo não sendo aquele produto específico de exportação. Ao mesmo tempo, tudo o que contém produtos importados se torna mais caro. As políticas de desvalorização da moeda nacional sempre mexem nesse equilíbrio, o poder de compra das famílias que têm a renda vinculada à venda de sua força de trabalho, inclusive aposentados, diminui. Simplificando, é como se houvesse uma redução do salário real. De maneira que a alta do Dólar acaba por se refletir nos índices de inflação.
No caso da agricultura, esse “paraíso” é matizado pelo preço dos insumos, pois parte deles é importada. O agricultor, que paga os insumos, pode ter aí uma redução parcial de seu ganho. O mesmo não ocorre com quem simplesmente explora a terra cedendo-a em troca de equivalente-produto, tipo “tantas” sacas/ano, ou quem pouco depende de insumos estrangeiros.
Entra em campo a equipe econômica para evitar que o aumento do custo real de vida ocasionado pelo modelo exportador se reflita, primeiramente, nos índices de inflação e depois seja repassado como remuneração aos fatores de produção, em especial à força de trabalho e aos aposentados. Incontáveis expedientes que deixam o consumidor-cidadão no vácuo: “tudo subiu, a gasolina quase a R$ 6,00 e a inflação segue dentro da ‘meta’?!?”
Para reduzir as pressões do fator trabalho, prestam um serviço inestimável as reformas trabalhistas, que não se resumem à Reforma Trabalhista do período Temer, mas somam-se diversas medidas de desregulamentação das relações de trabalho que retiraram do trabalhador as mínimas condições de negociar seu preço.
O salário mínimo que em 2014 chegou a USD 308,09, a partir de então, sofreu constantes reduções. Instabilidades políticas afetam o câmbio de forma aguda, mas o importante são os novos patamares sobre os quais a equivalência se acomoda. O salário mínimo atual, de R$ 1.100,00, vale em torno de USD 217,00. E aí pensamos: que produtos a serem adquiridos com esse salário tiveram semelhante redução? Mesmo no “paraíso”, não tem almoço grátis. Alguém sempre paga.
Enquanto isso, é muito útil que nos digladiemos o tempo todo sobre todas as questões imagináveis, tudo simultaneamente, como se antes não tivéssemos diferenças e de repente elas fossem todas um caso de vida ou morte, como se a única solução de convivência pacífica fosse aparar todas as arestas e pensar todo mundo da mesma maneira sobre tudo, uma nova Torre de Babel, feita de soberba e intolerância.