A eleição presidencial de 2014 ficará na nossa memória. Daqui a muitos anos ainda nos lembraremos do embate eleitoral entre Dilma Rousseff (PT) e Aecio Neves (PSDB). Lembraremos da diferença final de pouco mais de 3% dos votos em favor de Dilma, da campanha anti-Dilma na grande mídia, do golpe da revista Veja na véspera da eleição, das reviravoltas ao longo da campanha, especialmente a partir da morte de Eduardo Campos, da guinada à direita de Marina e do PSB, do acirrado debate nas redes sociais.
Foi uma eleição emocionante, decidida no detalhe. A Presidente Dilma vai para o segundo mandato com grandes desafios à frente, mas com total legitimidade, porque conquistou a vitória de forma limpa, sem qualquer expediente obscuro, diferentemente da oposição, que ficará marcada pelo episódio da Veja.
Um elemento relevante para o futuro da política nacional é a nova face da direita brasileira que emergiu no processo eleitoral. Utilizo o entendimento de Norberto Bobbio sobre essa terminologia: a “direita”compreende as concepções políticas “inigualitárias”, ou seja, que aceitam e justificam as desigualdades sociais, ao passo que as de “esquerda” são “igualitárias”, ou seja, acreditam na possibilidade e defendem a redução das desigualdades sociais.
Nesta eleição, a direita foi representada pela candidatura de Aecio Neves. Trata-se de um eleitorado diversificado, mas que na sua maior parte compartilha opiniões de direita. Em comum, uma bandeira: derrubar o PT! O anti-petismo é, hoje, o elemento aglutinador da direita brasileira.
Sem assumir abertamente todas as pautas, a candidatura de Aecio catalisou o pensamento da direita. Essas pautas incluem:
– visão econômica neoliberal: o reaparecimento do ex-ministro Arminio Fraga mostra que o ideário do Estado mínimo e do mercado máximo anima mentes e corações direitistas;
– visão moralista da política: a corrupção foi o tema escolhido para criminalizar Dilma e o PT, independente dos próprios problemas da oposição nesse campo, fazendo uma campanha moral do suposto bem contra o suposto mal;
– conservadorismo moral: a condenação do aborto e da homoafetividade caracterizam uma concepção moral apequenada, que faz eco às pregações de evangélicos e católicos fundamentalistas;
– oposição às políticas redistributivas: as políticas redistributivas de renda (bolsa-família, programa habitacional) e oportunidades (cotas) são taxadas de “esmola” e “assistencialismo”;
– preconceito contra pobres, nordestinos, índios: beneficiários dos programas de redistribuição de renda e de demarcações de terras são acusados de sugar a economia do país;
– autoritarismo político: a saudade da ditadura e o apoio ao retorno dos militares ao poder foram tornados públicos em várias cidades por ocasião dos 50 anos do Golpe Militar de 1964, e esses setores perfilaram-se do lado oposicionista.
O conjunto dessas pautas pode ser considerado a síntese da direita brasileira atual: anti-petismo, neoliberalismo econômico, moralismo político, conservadorismo moral, anti-redistributivismo e autoritarismo político.
Os eleitores de Aecio que não se identificam com a direita precisam afirmar suas próprias causas. Logo aí à frente há novas decisões e eleições. Tomar posição será preciso novamente!