Ana Souza
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Quem não lembra de parte de uma música de Erasmo Carlos que diz assim: “Dizem que a mulher é o sexo frágil, mas que mentira absurda!”. Exatamente isso, a mulher tem uma força que até ela mesma dúvida. Como exemplo, a busca por espaços na área política, que ainda são insuficientes. Em entrevista, a vereadora Nicole Weber (PTB) fala sobre como concilia a carreira política com o papel de mulher no dia a dia.
Riovale Jornal – Primeiramente fale sobre você mulher na questão política. Como tudo começou?
Nicole Weber: Começou nas séries iniciais quando virei líder de turma, depois fui presidente do Grêmio Estudantil, dos Diretórios Acadêmicos da Unisc e da PUC/RS. Desde cedo sempre estive envolvida com o voluntariado e o coletivo, aprendi muito nova que a vida não é justa nem igual para todos, e isso sempre me deixou inquieta. Aprendi a priorizar o bem coletivo sob o individual. Sempre quis concorrer a vereadora, quase me candidatei aos 19 anos, mas achava que precisava de mais experiência para entregar mais à comunidade. No outro pleito me tornei mãe, no outro retornei à faculdade, e este fechou bem com minha titulação como Mestra em Políticas Públicas. Tudo tem o momento certo para acontecer.
RJ – Atualmente, no cenário da política como você vê a atuação feminina?
Nicole: Vejo nossa representatividade como insuficiente em comparação com outras áreas. Por exemplo, em nossa Câmara Legislativa local, além de sermos apenas duas representantes entre as 17 cadeiras, eu sou apenas a 13ª vereadora mulher eleita, ou seja, em 132 anos de Câmara Legislativa, não foi completado um mandato sequer inteiro de mulheres, e precisamos imediatamente nos indagar enquanto Município o por quê dessa desproporcionalidade. Somos 54% da população de Santa Cruz, e temos muitas mulheres capacitadas para ocupar este espaço, mas por que não votamos nelas? A política tem sido o “teto de cristal” que não conseguimos quebrar, desde 1940 navegamos na mesma porcentagem de mulheres eleitas no Brasil. Nossa cidadania ainda é uma “bebê”, e justamente por existir essa falta que considero uma grande responsabilidade a minha entrada na Câmara de Vereadores, é minha missão trazer essa reflexão à luz para que mulheres compreendam o poder imenso que tem nossa união, e a importância de colocar mulheres em espaços de decisão e poder, que façam políticas públicas por e para nós, e abram espaço para nossas futuras líderes.
RJ – Hoje, eleita vereadora, tendo também uma mulher como prefeita, o que representa?
Nicole: É um grande passo. Nós, mulheres eleitas pelo povo, somos tão poucas, que sentimos no dia a dia a sensação de que precisamos constantemente provar que merecemos e temos competência para estar ali, um espaço que por séculos fora atribuído exclusivamente ao gênero masculino. É fundamental ter essa noção: cada mulher que avança num espaço de voz e decisão, leva todas as outras juntas, independente de partido. Eu, por exemplo, sempre tive como minhas duas grandes referências locais a deputada e ex-prefeita Kelly Moraes (PTB) e a atual prefeita Helena Hermany (PP), de partidos opostos, e eu sempre expressei isso a elas, porque pra mim, o que elas conquistaram enquanto representantes, abrindo caminho para mulheres como eu, é muito maior do que qualquer divergência política.
RJ – Na Câmara de Vereadores, maioria representada por homens, fale do orgulho em ser uma referência neste contexto.
Nicole: Muito orgulho! Eu tenho ciência, pelas bandeiras que carrego, que minha eleição expressiva se deu massivamente pelo voto de mulheres, logo, sinto-me muito honrada por carregar a responsabilidade de bem representá-las. Penso nisso todos os dias quando acordo: “preciso honrar todos aqueles votos de confiança! O que farei hoje para que isso aconteça?”
RJ – Sua bandeira é a defesa da mulher, nesta data qual seu olhar sobre a valorização da mulher?
Nicole: A mulher tem demandas muito específicas, e é essencial que a sociedade compreenda isso. Estamos ocupando cada vez mais espaços no mercado de trabalho, no meio acadêmico, nos esportes, em tantas áreas, mas ainda falta muito: falta a virada de chave cultural. Falta a divisão de responsabilidades domésticas e com os filhos, falta eliminar a violência doméstica, o estupro, o assédio, a desigualdade salarial, entre tantas outras problemáticas. Valorizar a mulher é dialogar sobre isso, escutá-la e agir para que a mulher possa parar de lutar para sobreviver e vigiar seus direitos já conquistados, e enfim possa viver plenamente de forma igual e conquistar ainda mais.
RJ – Falando de vaidade feminina, como é a vereadora Nicole no dia a dia?
Nicole: Meu dia a dia é muito corrido do início ao fim, me divido em dez Nicoles. Sou organizada, me programo, mas surgem várias demandas durante o dia. Além de ser mãe do Arthur, no gabinete (só de mulheres) conto com a agilidade das minhas assessoras e amigas Suelem e Fernanda, e me divido com a advocacia e o ativismo também. Mantenho uma rotina de atividades físicas para aguentar o ritmo. Aos finais de semana priorizo estar com meu filho, família e amigos, mas também tenho muitas chamadas porque finais de semana acontecem muitas ocorrências de violência contra a mulher. Estou sempre em alerta.
RJ – Para finalizar, uma mensagem para o Dia da Mulher.
Nicole: Neste 8 de março, aceitamos as flores, mas também queremos respeito e dignidade. Que o dia de hoje reforce a importância de seguirmos lutando para que todas nós, independente de classe, cor ou credo, possamos ser livres. Feliz Dia da Mulher!