Viviane Dreher
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Você sabia que as mulheres negras representam o maior grupo demográfico do País? De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua de 2019, divulgados pela plataforma Mulheres Negras Decidem, elas são 28% da população.
Entretanto, a representatividade e o respeito ainda são barreiras para construção de um futuro antimachista e antirracista. Para se ter uma ideia, no cenário político menos de 2% das cadeiras no congresso nacional são ocupadas por mulheres negras.
Mas não é somente nos espaços públicos, de decisão e poder, que a luta do feminismo negro está focada. As mulheres negras estão no topo da cadeia de vulnerabilidade. Segundo o Ministério da Cidadania, a triste realidade mostra que a vítima é negra em mais da metade dos casos de violência contra a mulher.
Além disso, as mulheres negras ainda sofrem discriminação no mercado de trabalho, expostas a condições precárias de emprego, baixa remuneração, diferença desigual de salários. Sem falar na exploração da mão de obra e no assédio moral e sexual, herança cultural racista e escravocrata da nossa sociedade.
25 DE JULHO
E para colocar em pauta o impacto do machismo e do sexismo em relação às mulheres negras, em 1992 foi instituída a data de 25 de Julho como Dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha. Um marco internacional de luta e resistência da mulher negra para reafirmar a necessidade de enfrentar a discriminação racial, social e de gênero.
No Brasil, a data ainda celebra o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, em homenagem à líder quilombola que resistiu à escravidão durante duas décadas no século XVIII, lutando pela comunidade negra e indígena que vivia sob sua liderança. A Rainha Tereza, como era conhecida, morreu em 1.770, quando o quilombo foi destruído e a população morta ou aprisionada.
A LUTA É EM DOBRO
“A luta da mulher negra é em dobro”. A frase da santa-cruzense Adriana Assis, 47 anos, reflete a sua visão sobre a importância do 25 de Julho para lembrar a situação dessa importante parcela da população. Desde o ano passado, a comerciária faz parte do Movimento Negro Unificado de Santa Cruz do Sul, um espaço que ela considera fundamental na busca por direitos do povo negro.
E a valorização da mulher negra é uma das bandeiras do grupo, que reúne profissionais de diversos segmentos da comunidade. “Lutamos como mulher e como mulher negra, contra a sexualização que, muitas vezes, leva à solidão. A maioria das mulheres negras são mães solteiras, chefes de família, e o movimento quer ajudar a mudar essa mentalidade”, conta.
Adriana também é inspiração para as suas duas filhas adultas e procura passar para elas a consciência de que a voz de cada uma pode fazer a diferença. “Cada vez mais, vemos a presença do negro em cargos de liderança, em lugares da nossa sociedade e que podem servir de espelhos para outros negros. Isso nos dá um pouco mais de esperança”, diz.