Alyne Motta – [email protected]
Alyne Motta
Ernesto ganha a vida desenhando na rua, o local onde o povo está
Entre o barulho dos carros e do público que passa nas calçadas, Ernesto Azevedo faz o seu trabalho. Na Rua Marechal Floriano, em frente ao Colégio Marista São Luís, o artista monta o seu espaço e começa a desenhar. É ali que ganhar inspiração para sua arte ir para o papel.
Autodidata, aprendeu a desenhar aos 5 anos. Em 1995, aos 28 anos, decidiu tornar o seu hobby em profissão. Natural de Rio Pardo, Ernesto começou a desenhar na rua quando residia em Canoas. “Decidi que o desenho seria o meu sustento”, afirma o artista.
Sobre a rua, Ernesto declara que o artista precisa estar no meio do povo. “A rua é o espaço para aprender”, comenta o desenhista, que acredita no lado espiritual e material. “Aqui me sinto feliz”, acrescenta Ernesto, referindo-se a sua “instalação” no centro de Santa Cruz do Sul.
Muito espiritual e integrante da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Ernesto acredita que Deus tem um propósito para cada um. “O meu é pintar, um dom que recebi”, afirma ele que, nas horas de folga, ainda ensina a criançada a desenhar. “Eles vem me mostrar e dou algumas dicas”, revela.
INSPIRAÇÃO
Sempre de pensamento positivo, Ernesto acredita que o fracasso é a incapacidade que o homem tem de vencer seus objetivos. “Por isso que vivo a minha vida da melhor forma possível. O que tiver que ser, vai ser”, garante o artista, que reside em Rio Pardo e vem diariamente para cá.
Sem uma ideia sequer de quantos trabalhos produziu, tem suas obras nos Estados Unidos e Alemanha. “Tenho conhecidos que, todo o fim de ano, trazem fotos para eu reproduzir. Assim é que meu trabalho vai mundo a fora”, explica o artista, orgulhoso pelo destino de suas obras.
PROFISSÃO
Balconista farmacêutico, profissional de laboratório, marceneiro e até mesmo alambrador. Muitas foram as profissões de Ernesto, que se considera santa-cruzense de coração. “Amo esta cidade e por isso venho diariamente”, explica ele que morou por aqui em 1999 e considera-se um patrimônio do município.
“Esta é a minha vida. Amo o que faço e vou vivendo da melhor forma possível”, garante o desenhista de 45 anos. O incentivo recebe da esposa e dos outros artistas de rua. “São meus amigos e respeito todos eles, assim como me respeitam. A rua tem espaço para todos”, declara Ernesto.
Na rua, trabalha ao lado de outros artistas em Porto Alegre e na região metropolitana, mas nunca criou inimizades. “Se outros desenhistas quiserem trabalhar ao meu lado, dou todo o incentivo necessário. Cada um tem sua arte, estilo, técnica e experiência”, comenta o artista.
APERFEIÇOAMENTO
Como aprendeu tudo sozinho, Ernesto foi se aperfeiçoando com o erro e com a insistência. “As pessoas foram me dizendo o que não gostavam e eu fui melhorando. Hoje tenho orgulho em dizer que trabalho com as mais variadas técnicas”, comenta Ernesto, que preza pela humildade.
Seu trabalho é baseado em qualquer imagem, sejam fotografias, quadros, recortes de jornais ou outros objetos. “Aprendi a reproduzir em qualquer peça”, revela ele sobre os desenhos que são feitos em giz pastel, óleo sobre tela, lápis de cor ou preto e branco.
Em média, leva de 3 a 4 dias para terminar um trabalho e ainda comenta que não trabalha nos fins de semana. “Gosto de ter tempo para o meu lazer”, revela Ernesto. Seus trabalhos custam R$ 160 e podem ser encomendados diretamente com o artista na rua ou pelo fone (51) 9874 6176.