Início Especiais A hora das Bruxas: da figura malvada ao arquétipo do poder feminino

A hora das Bruxas: da figura malvada ao arquétipo do poder feminino

A vilã dos contos de fadas, que por séculos assombrou o imaginário popular, parece retomar o seu lugar ao Sol com a queda por terra de conceitos errôneos e distorcidos

Fotos: Débora Dumke
Arranjo temático com sabonetes aromáticos

Engana-se quem ainda acredita que bruxas são feias e se ocupam em oferecer maçãs envenenadas. A vilã dos contos de fadas, que por séculos assombrou o imaginário popular, parece retomar o seu lugar ao Sol com a queda por terra de conceitos errôneos e distorcidos. Pelo menos isso é o que acredita Cida Fontana, de 56 anos, fundadora do Mercado da Bruxa e que há mais de 30 anos se dedica ao estudo e à prática da bruxaria.

Mercado da Bruxa se dedica ao estudo e à prática da bruxaria há mais de 30 anos

Fundada em 1994 em Lajeado e tendo aterrissado em Santa Cruz do Sul em 1998, a loja foi a primeira do Brasil a levar a palavra bruxa no nome e a primeira esotérica do interior do Rio Grande do Sul. “Foi um ato de coragem”, diz Cida, lembrando que inúmeras pessoas tentaram demovê-la da ideia do nome. “Da minha mãe a conhecidos, todos diziam que o Mercado da Bruxa não ia dar certo por causa do nome, que as pessoas teriam medo de entrar na loja e era um medo que realmente eu e meu marido, também sócio fundador, não tínhamos.”

No Mercado da Bruxa tem uma linda coleção de chapéus

Embora ressalte que a aceitação foi algo realmente inexplicável pelo carinho recebido pelos clientes e frequentadores da loja, Cida lembra que nem sempre foi assim. “Passamos por algumas situações claramente preconceituosas, de pastor com bíblia na mão orando na frente da loja ou pessoas que entravam, mas não queriam ser vistos no interior da loja. Graças à Deusa isso mudou e certamente faz parte da evolução do ser humano.”

Duendes: seres cheios de amor e disposição em ajudar

Essa retomada de consciência é uma vitória. Felizmente, a justiça está sendo feita e, de modo geral, há um aumento da compreensão do verdadeiro significado da palavra bruxa. Para Cida, bruxaria é religião, possivelmente a primeira do mundo. Segundo ela, o princípio básico da bruxaria é a conexão com a natureza, seus ciclos e elementos (e não tem nenhuma ligação a práticas associadas a magias maléficas).

Essencialmente feminina, a bruxaria raiz está associada à interação com recursos naturais, como os cristais

A prática da bruxaria se dá através da observação e interação com o meio. Assim, bruxa de verdade é aquela(e) que entende que tudo é energia, que tudo está interligado e que “o que está em cima é igual ao que está embaixo”. O mandamento da bruxaria? “Fazer o que desejar, sem mal a ninguém causar”!

Essencialmente feminina, a bruxaria raiz está associada à interação com recursos naturais, como ervas, cristais, elementais, e fluxos energéticos proporcionados pelas estações da natureza, as fases da lua e o movimento dos astros. Além disso, a busca pelo equilíbrio vem através da retomada do culto à Deusa: as sociedades patriarcais e suas religiões baniram a figura da Deusa e há um grande movimento no mundo que busca resgatar o culto ao Sagrado Feminino.

Para Cida, o 31 de outubro vai muito além das celebrações de Halloween: é dia de celebrar bruxas e bruxos no sentido original da palavra, o de gente conectada com a natureza, do bem e responsável em tecer a grande teia da vida com equilíbrio e harmonia. O Mercado da Bruxa estará integrado à Procissão das Criaturas neste sábado, 29.