Era uma vez, nos anos 60 do século XX, um grande salão de baile. Havia duas grandes pistas de dança: uma se chamava Atlântico e a outra Pacífico. De cada lado das pistas havia muitas mesas onde sentavam senhores e senhoras com características de extremas diferenças entre si. Diferenças como linguagem, costumes, expressões artísticas e culturais.
O senhor Brasil lançou um olhar e mandou um recado para a senhora França. Queria dançar com ela. Ela, muito bem acomodada na cadeira, não aceitou, e a resposta foi acompanhada de um comentário: “- Le Brésil n’est pas um pays sérieux” (O Brasil não é um país sério). O Brasil se ofendeu, levantou, mas logo outros que estavam próximos o consolaram. Acalmaram o tumulto, mas o Brasil nunca esqueceu.
Esta história é uma invenção minha, mas a frase dita em francês foi verdade. Foi dita por Charles de Gaulle, presidente da França de 1958 a 1969. Após falar ele tentou, sem conseguir, negar que teria dito. As relações entre países são semelhantes às relações interpessoais. Exigem diplomacia. Muitas vezes em que falta diplomacia na relação entre países é por falta desta qualidade pessoal em seus representantes. Charles de Gaulle já não vive mais, mas se é verdade que espíritos nos ouvem, gostaria de lhe dar três respostas. A primeira:
“- de Gaulle, se o Brasil não é um país sério, isto não é problema teu, é meu. É um problema de cada brasileiro, e já estamos dando um jeito nesta parte. Nosso país é jovem, não temos uma história milenar”.
A segunda resposta poderia se reportar com mais ênfase à juventude do nosso Brasil, e talvez por sermos uma nação jovem, gostamos de filhos, e de como fazê-los. Não precisamos pagar tanto por filho nascido, como uma estratégia para evitar o desequilíbrio da natalidade com uma superpopulação de velhos. E por falar em desequilíbrio, poderia também dar ênfase a não termos motivos culturais que nos levem a ter desequilíbrio na quantidade de fábricas de perfumes. Entretanto, o tempo me ensinou que diplomacia é uma das muitas faces da elegância. É uma qualidade que deve ser transferida sem perdê-la. E por pensar assim, e pensar ser isto uma verdade em mim, diria que a minha segunda resposta a de Gaulle é eu considerar a França uma grande nação.
O Brasil também é um grande país. Não aplaudo intenções, aplaudo fatos. A imprensa brasileira, com liberdade, tem denunciado políticos e ajudado a moralizar este país. A presidente Dilma tem derrubado assessores e ministros mediante denúncias de corrupção evidente. Neste mês de setembro o Brasil sediou o concurso de Miss Universo com sucesso. Está sediando o Rock in Rio 10, que preferiu voltar para onde nasceu, após edições em Madri e Lisboa. Em 2013 vai sediar a Copa das Confederações e o Rock in Rio 11. Em 2014 a Copa do Mundo. Em 2015 o Rock in Rio 12. Em 2016 as Olimpíadas. Isto é Brasil. No cenário econômico, em que as turbulências e maremotos deste tempo de crises afogam países do primeiro mundo, o Brasil se mantém no topo da colina, assistindo a tudo.
Antes que eu me esqueça, prometi a Charles de Gaulle três respostas, e falta a terceira: “- de Gaulle, lembra daquele baile? Agora estamos em outro. A França aceita dançar com o Brasil? Se quiser terá que subir e dançar onde o Brasil está: aqui, em cima da mesa”.