Uma característica essencial da História humana é que ela não é linear, não se estende em uma evolução contínua. No século 19, as teorias positivistas e comunistas apontavam para um progresso contínuo, que nos levaria a uma condição de vida ideal, baseada no racionalismo. No século 20, essa ideia de progresso contínuo foi derrubada, pois tivemos duas guerras mundiais e uma série de outros problemas graves, causados, entre outros fatores, pelo racionalismo.
Outra prova da não-linearidade da História está sendo vivida atualmente, com a pandemia. Esta grave situação provocou dificuldades na saúde, na economia e, entre outras consequências, trouxe a questão da fome de volta às grandes manchetes. Lembram da década de 1990, quando o País sofria com altos índices de pobreza extrema? Pois bem, entendia-se que a pobreza extrema estava sendo superada na década de 2000 e parte da década de 2010, no Brasil. De fato, já na década de 1990, políticas estavam começando a ser implementadas para superar um triste cenário que assolava o País.
Nestas últimas décadas, o Brasil estava melhorando em suas questões sociais, mas, infelizmente, a pandemia prejudicou muito esse processo de ganhos sociais, que já havia sido interrompido por dificuldades econômicas que o País enfrentava antes da pandemia.
No dia 16 de abril de 2021, o jornal “Folha de S. Paulo” publicou a seguinte manchete: “Seca, fome e miséria no sertão nordestino na pandemia lembram anos 1990”. O jornal complementou a manchete com a seguinte frase: “Povoados isolados contam com doações e ajuda de voluntários para sobreviver em meio à crise sanitária”.
O Brasil precisa se remobilizar para inverter essa realidade que se fragilizou muito com a pandemia. Ampliar os programas de distribuição de renda, para além da pandemia nos próximos anos, é uma perspectiva que deve ser pensada e colocada em prática. Que o Brasil supere o atual momento. Em passado recente, o País mostrou capacidade para lidar com a fome. A História pode não ser linear, mas há motivos para ter esperança.