Era uma vez uma sociedade de rãs que viviam no fundo de um poço muito escuro e profundo. Estas eram governadas por uma grande líder-rã, que se dizia proprietária do poço e de seus ocupantes.
Ocasionalmente, uma cotovia excêntrica voava até o fundo do poço e cantava para as rãs as coisas maravilhosas que ela via fora do poço como o sol, a lua, as estrelas, as montanhas, os vales, o mar, o vento e as flores. Mas a cada visita, a líder-rã dizia que essa terra encantada seria, depois da morte, a recompensa pelo bom trabalho que elas faziam no fundo do poço.
Com o tempo e talvez desiludidas com os dizeres da líder, as rãs se tornaram mais céticas aos cantos da cotovia. Entretanto, elas haviam se convencido de que o pássaro era contratado pela grande líder para reconfortá-las e distraí-las, e que todos os seus cantos eram mentiras.
Mas havia entre elas um filósofo que pensava que o canto da cotovia não era exatamente mentira ou loucura, mas uma mensagem às rãs, segundo a qual podiam ser menos infelizes, se elas decidissem organizar seu próprio poço.
As rãs se encheram de afeição pela cotovia e quando veio a revolução – porque todas as revoluções sempre acabam por se fazer – as rãs colocaram a imagem da cotovia na bandeira delas.
Depois de destituírem a grande líder, elas iluminaram e ventilaram o poço e se beneficiaram de muitas diversões e de liberdade.
Entretanto, a excêntrica cotovia continuava vindo e cantando o sol, o mar, o vento, as flores, e a rã filósofa, chateada, disse que elas não necessitavam desses cantos ambíguos. De toda maneira, era muito aborrecedor sempre escutar suas fantasias, que tinham perdido o propósito no plano social.
Assim, um dia, elas capturaram a cotovia; depois de a matarem, empalharam-na e a instalaram num lugar de honra num museu da cidade, onde a entrada é gratuita.
Esta fábula atribuída a Chuang-Tsu, 350 a.C., tem contundente atualidade e remete à reflexão sobre o porquê de perseguirmos a humildade e ajudar as pessoas que precisam de nós.