Quando, em 2007, o governo Lula empenhou-se pela realização da Copa do Mundo aqui não houve embates nem discussão. Foi acolhida por gregos e troianos a justificativa do governo: será um momento ímpar para afirmar o Brasil como um dos países emergentes no cenário global e a capacidade de organizarmos eventos de impacto mundial.
Todos sabiam que a Copa envolve a engrenagem dos grandes negócios da Fifa, mas nenhuma força de oposição manifestou dúvidas sobre as vantagens econômicas que o país teria. Os cálculos indicavam a necessidade de investir uns 30 bilhões de reais, e em contrapartida seriam gerados valores bem maiores com o turismo (uns 150 bilhões de reais, calcula-se hoje).
Os investimentos públicos e privados anunciados pelo governo, seriam de cerca de 30 bilhões: 5,7 bi para estádios; 11,6 bi para mobilidade urbana; 5,5 bi para portos e aeroportos; 3,8 bi para telecomunicações e energia; 4,6 bi para segurança e saúde ; 1,9 bi para hotelaria, num total de 33,1 bilhões de reais. (Fonte: Ministério da Fazenda, 2012)
Tudo tranquilo então? Não. O tempo foi passando e as críticas foram se avolumando, envolvendo atrasos nas obras, gastos superiores ao previsto em estádios, etc. E, para surpresa minha e de muitos, o governo não soube ou não se preocupou em explicar de novo e de novo os benefícios da Copa.
Vieram os fortíssimos questionamentos das manifestações de rua de 2013, e o governo não reagiu à altura. Não foi explicado devidamente que os recursos para estádios eram na sua maioria empréstimos do BNDES; que nenhum centavo do orçamento da educação e da saúde iria para os estádios; que a maior parte do dinheiro público seria aplicado em obras permanentes (ruas, portos, aeroportos); que a previsão de arrecadação com o turismo de 600 mil estrangeiros proporcionaria um retorno cinco vezes maior do que os investimentos feitos pelo país; que a opção por 12 estádios ao invés de 8 foi uma forma de prestigiar todas as regiões do país e que serviria para mostrar ao mundo a diversidade brasileira.
Não tenho dúvidas de que a intensidade e ferocidade das críticas da oposição (partidária e midiática) têm a ver com as eleições de outubro. A batalha eleitoral foi antecipada e trazida para o campo de futebol. Mas, também não tenho dúvidas de que foi a falta de comunicação governamental competente que permitiu a proliferação de boatos e falatórios.
Agora, às vésperas do evento, inicia uma campanha de esclarecimento, que provavelmente vai tirar as dúvidas de muita gente. Outros muitos já firmaram posição: são anti-Copa, anti-Dilma, anti-Lula, anti-PT. Faz parte do jogo democrático. O mais importante é que as coisas fiquem claras para o eleitorado. Como já vimos em eleições anteriores, o povo não é bobo.