Dando continuidade à exibição de filmes que tratam da problemática da infância, a Associação Amigos do Cinema exibirá nesta terça-feira, dia 13, o filme argentino “Valentín”, de Alejandro Agresti, 2002, 86 min. A sessão acontece às 20h, com o apoio de Sindibancários e Escritório Fuerstenau. Leia a crítica do filme, por Carlos Alberto Mattos:
EM BUSCA DE UMA MÃE LOURA
Alejandro Agresti vinha correndo por fora na atual retomada do cinema argentino. Trabalha com capitais europeus e costumava fazer um cinema alternativo àquele de comunicação mais fácil que lota cinemas (Nove Rainhas, O Filho da Noiva, Kamchatkaetc). Mas com Valentín ele parece capitular ao melodrama de larga aceitação.
Na verdade, só parece.
Valentín tem ingredientes infalíveis: um garoto altamente perceptivo com uma carência familiar básica; uma avó meio caricata, defendida pelo carisma de Carmen Maura; um roteiro simples e linear, que apresenta o problema e empreende uma caminhada até a solução quase mágica; uma esperta combinação de humor e sentimentalismo, embebida em música comovente. Mas agora vem a boa notícia: Agresti maneja tudo isso com uma sensibilidade superior e evita cair em fórmulas baratas.
O filme foi o mais premiado pela associação de críticos argentinos em 2002: ganhou sete Condor de Prata (melhor filme, diretor, roteiro original, revelação masculina – o menino Rodrigo Noya –, música, direção de arte e montagem).
A história é autobiográfica, baseada em supostas memórias da infância do diretor. Ele escalou a si próprio no papel do pai, um canalha anti-semita que só aparece na vida do pequeno Valentín para repisar em suas feridas. É a vingança de Agresti contra o seu pai. Seria difícil, fora da ficção, encontrar um menino com tamanha capacidade de observação e reflexão, além de interesse tão amplo por tantas coisas como Valentín. Em fins dos anos 1960, ele quer ser astronauta, aprende piano, tece considerações sobre parentes e conhecidos… e sobretudo dedica-se com fervor a paquerar uma mãe – de preferência uma loura – para ocupar o lugar da sua, ausente e por quem se sente rejeitado.
O expediente da narração em primeira pessoa é engenhoso. Ouvimos as considerações de Valentín como se viessem de uma consciência exterior (a razão, compreenderemos no final). Isso, ao mesmo tempo que explica a elaboração às vezes exagerada das ideias, também funciona como uma chantagem sentimental a que não é muito fácil resistir.
Assim caminha o filme: sentimos que estamos sendo docemente manipulados, mas a simplicidade do estilo e a precisão da direção nos conduzem com firmeza suave para o rumo pretendido. Rodrigo Noya foge ao típico menino-bombom desse tipo de filme: é vesgo, um pouco desengonçado e se expressa tão bem pelos silêncios e olhares perplexos quanto pelas palavras.