A dança parece ter sido a forma de arte praticada pelos primeiros seres humanos. Até o fim do século XIX a dança parecia limitada à imitação de plantas e animais, sem a tradução das emoções humanas. No fim do século XIX e início do século XX a dançarina americana Isadora Duncan (1877 – 1927) revolucionou a dança ao considerá-la um veículo para expressar conteúdo emocional. Dançava com espírito livre tentando transmitir a beleza, a natureza como, por exemplo, o vento, e sentimentos como o amor. No início do século XX, a também americana Martha Graham (1894 – 1991) revolucionou a dança tanto quanto Picasso revolucionou a pintura. No início do século XX os acontecimentos e os entendimentos das pessoas se encaminhavam para uma nova era. Iniciava-se o movimento modernista. Graham deu à dança uma função de comunicação. Ela disse: “A vida atualmente é nervosa, impetuosa e tortuosa. Ela muitas vezes se interrompe no ar… É isso o que eu quero para as minhas danças”. Disse também: “A diferença entre o artista e o não artista não é uma capacidade maior de sentimento. O segredo é que o artista pode objetivar, tornar aparentes os sentimentos que todos nós temos”. Martha Graham foi o maior nome da dança no século XX.
Graham lembra muito o coreógrafo Junior Soares. Cada um no seu tempo, ambos primam pelo transbordamento das emoções e a busca da perfeição. Ouvi Junior falar: “Dancem sempre com arte, com a alma, porque a dança emociona, mas a arte eterniza”. Junior chegou em Santa Cruz do Sul em 2006. Atualmente é sócio-proprietário do centro de arte e excelência em danças Open Extreme Brasil (anexo ao Clube Corinthians – Fone 51-3711-2526). Ao lado de excelentes instrutores em várias categorias, lá consegue deixar às pessoas sua mensagem de dança como entretenimento, troca de energias e arte. Tive oportunidade de conhecer isso de perto ao frequentar aulas e, muito especialmente, ao aceitar o convite para participar da companhia de base do Open Extreme. Sob a direção do Júnior, ensaiamos o espetáculo “A vida segue… mas segue para onde?” apresentado nos dias 28 e 29 de abril no Teatro do Colégio Mauá. Foi mais de um mês de ensaio quase todas as noites até meia-noite e meia. A proposta era entregar ao público o melhor de nós. Muito mais que dançar, era entregar nossas emoções, nosso coração, a alma inteira em cada gesto. Eu disse e aqui repito que, desde o primeiro ensaio, o mês de abril foi o mais intenso da minha vida, e olha que eu tenho estrada. Foi uma honra não menor do que qualquer titulação científica que eu já tenha conquistado. Convivi com adolescentes e jovens adultos abnegados pela arte com qualidade, onde não há espaço para drogas ou indisciplina. Convivi com o impacto da inclusão social proporcionado pela dança, semelhante ao que ocorre com os esportes, senti o resultado disso ali, ao meu lado, tocando em mim. Convivi com verdadeiros heróis da vida que enfrentaram dificuldades extremas, passaram por tudo com integridade de caráter e hoje são universitários, e tenho certeza do futuro brilhante que os aguarda. Convivi com jovens moças com formação em balé clássico, mas com uma incrível capacidade de absorção do contemporâneo, um exercício de adaptação que encontrará eco no que forem fazer vida afora.
A dança, mais que uma atividade cultural, precisa ser vista como uma atividade educativa. Um dos mais inventivos pensadores da educação, Ken Robinson, especialista em criatividade e inovação, disse em uma palestra em junho de 2006: “Poucas escolas e ainda menos sistemas educacionais do mundo ensinam dança todo dia como parte de seus currículos, como fazem com matemática… Sistemas escolares em toda parte incutem em nós uma visão estreita de inteligência e capacidade e sobrevalorizam tipos particulares de talento e habilidade”.
Educação, além do condicionamento cognitivo, pode também ser entendida como a busca constante do condicionamento físico e emocional. A dança pode contribuir para isso. Independente de ser jovem ou idoso, com quantos anos você se sentiria se não soubesse a idade que você tem?