Hoje é segunda-feira (20), uma semana depois que o Brasil perdeu Moraes Moreira, o Doutor Pires, como o Totonho Villeroy o chamava. Um dia depois, na terça, dia 14, lá se foi Rubem Fonseca escrever seus contos ouvindo Moreira no céu. Essas duas passagens foram pra mim muito tristes. Desde menino ouvia Novos Baianos como se fosse um modelo de vida. As letras simples em melodias que misturavam rock, samba, bossa nova, deram uma cor aos pálidos anos de chumbo. Sem o engajamento político de outros artistas como Chico Buarque, Caetano, Geraldo Vandré, Gilberto Gil, o time se instalou em uma chácara no Rio de Janeiro e ganhou espaços em rádios e TV brincando e, dentre esses brilhantes brincalhões estava Moraes, Paulinho Boca de Cantor, Baby ainda Consuelo, Pepeu Gomes e Luiz Galvão.
Rubem Fonseca se foi aos 94 anos sem badalações como sempre viveu. Palavras nem tão usuais, elementos químicos, termos jurídicos, esse ex policial me foi apresentado pelo seu Bufo & Spallanzani e nunca mais saiu da minha vida. Desde lá, garimpei suas publicações anteriores e comprei a grande maioria do que lançou de 89 para cá.
Sem esses dois grandes a vida segue no isolamento de quase tudo e de quase todos. O coronavírus permanece causando dor e sofrimento em praticamente todos os cantos do planeta. Enquanto escrevo, nos EUA já são mais de 40 mil mortos, 20 mil a menos que os mortos norte-americanos na genocida guerra do Vietnan, onde morreram 1 milhão de vietcongs. No Brasil, a situação se agrava em comparação aos números dos americanos e pode, caso as restrições não sejam mantidas, chegar e até ultrapassar e muito.
Mas como desgraça pouca é bobagem, no domingo, dia do exército, brasileiros e brasileiras (será?) saíram às ruas para pedir, pasmem, a volta da ditadura e a implantação do AI-5, ato que fechou o Congresso e calou os jornalistas em 64. Parou? – Claro que não, respondo. O presidente apoiou essa aberração e na segunda negou. Gente, com toda a insanidade mental que alguém possa ter, solicitar o fim de seu governo em troca de militares no poder é totalmente sem registro. O mito pirou. Pirou até mais que os seus seguidores, acreditem. Mas, mesmo com todas essas más notícias, a vida
ainda anda para os que sobrevivem a tantos sobressaltos.
Em decorrência damo-nos conta que o presidente é capaz de índices fabulosos, mesmo fazendo tudo errado insistentemente. Só que os seus 30% de aceitação continuam firme e inabalável. Quando a classe média reclama depois de ter votado nele e agora nega, o pobre o assume como salvador da fome.
O resultado disso tudo foram notas e abaixo-assinados reclamando do desrespeito à constituição, mas nada de concreto à exceção da Procuradoria Geral da República que vai investigar os manifestantes que pediram a volta da ditadura, mas nenhuma referência ao apoio do presidente.
Em referência ao ato de domingo, um brutamontes cercado de outros brutamontes, agrediu com um soco uma mulher que passava pela rua. O ato foi flagrado por um fotógrafo de ZH e culminou com o (mau) elemento identificado na hora do boletim na delegacia. Depois, o covarde grampeou seu facebook para que ninguém pudesse lhe “atacar” pela rede. É neste cenário que estamos fugindo do corona para viver.