O casamento guei, que seria realizado sábado no CTG em Santana do Livramento, foi transferido para o fórum após o galpão ter sido incendiado. Ocorre que a gauchada entendeu que a união das lésbicas dentro do CTG seria uma afronta ao tradicionalismo. A justificativa não foi aceita pela juíza Carine Labres, que considerou o caso crime de homofobia. “O casamento guei dentro de um CTG durante a Semana Farroupilha seria um símbolo de aceitação e de evolução”, argumentou.
O caso vai dar “muito pano pra manga”. A lei prevê o casamento homossexual, mas, pela cartilha do MTG, casamentos só podem ser celebrados entre pessoas de sexos diferentes. Juremir Machado, que assina uma coluna no Correio do Povo, desceu a ripa nos tradicionalistas, aos quais chamou de “talibãs gaudérios de Livramento”: “O tradicionalismo gaúcho não tem o direito de defender princípios ou valorizar tradições que se oponham à lei. Boa parte dos seus credos comportamentais está sentada nos pelegos do preconceito”, alfinetou.
Já David Coimbra, colunista de ZH, defendeu a gauchada: “Um CTG é feito para que se cultuem as tradições. Entre as tradições não está cantar samba, ser vegetariano ou realizar casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Quando uma juíza determina que um casamento guei seja celebrado num CTG, ela está afrontando essas tradições”.
Leandro Neves, ex-patrão do CTG Tropeiros da Lealdade, de Cachoeira do Sul, postou em sua página no Facebook: “A palavra tradição vem do tradicional, e casamento guei em centro de tradição gaúcha não é tradicional”. O gaúcho tem orgulho de suas raízes e de preservar, cultuar e divulgar sua cultura. Gildo de Freitas já cantava: ‘Me chamam de grosso, eu não tiro a razão; eu reconheço a minha grossura… por isso até hoje eu tenho capricho… de conservar a minha tradição’”.
Antes de assistir ao show com o irreverente Mano Lima, que se autodenomina “Sindicato da grossura”, no 11º Acampamento Farroupilha aqui de Chapecó, fui convidado para ir em seu camarim. E, ao pedir sua opinião sobre o caso, ele me respondeu: “A liberdade é importante, desde que não machuque quem está ao lado”. Mano Lima resumiu o sentimento gaudério: não se trata de preconceito, mas de manter viva a tradição de um povo que reconhece a sua “grossura”. Como diz a música do Os 3 Xirus: “A essência da grossura, o povo saber de cor. É que nem caldo de feijão, quanto mais grosso melhor”.