Ana Souza
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A cada ano a expectativa é grande para a divulgação dos trajes oficias das soberanas da Oktoberfest e, este ano não foi diferente. Os vestidos foram apresentados na manhã de domingo, 11, na Praça da Bandeira. A coragem, esperança e a resiliência dos antepassados estão traduzidos nos trajes do trio de soberanas da 39ª Oktoberfes formado pelo rainha Tatiane Caroline Voese D’Avila, e pelas princesas Karoline Ribeiro Klaus e Nathalia Konzen da Silva. Todos os trajes da coleção “Travessia e Tradição – 200 Anos de Imigração Alemã”, foram desenhados e produzidos pelo Atelier Joana Tornquist. O trabalho foi desenvolvido como uma homenagem ao Bicentenário da chegada dos primeiros imigrantes alemães ao Brasil.
Em entrevista para o Riovale Jornal, a estilista Joana Tornquist, responsável pelas peças, fala de sua trajetória e do orgulho em confeccionar os trajes que traduzem a herança cultural alemã que moldou Santa Cruz do Sul.
Riovale Jornal: Como foi sua trajetória como estilista?
Joana Tornquist: Sou filha de costureira, Ana Tornquist, e minha vida inteira me criei dentro de uma confecção. Ajudava a minha mãe a costurar e fazia roupas para minhas bonecas. Enfim, ao longo da vida desenvolvi esta profissão. Tenho amor e carinho pela bagagem que adquiri ao longo da vida. Sempre tive paixão pela moda, poder fazer moda e criar minhas peças. É difícil descrever mas, era o que estava dentro de mim. As ferramentas para chegar até aqui foram proporcionadas pela minha família. Abrimos a loja Puchullu, também junto com confecção própria. Isto tudo me levou por este caminho e, pelo qual, sou apaixonada.
RJ: Você foi responsável pela confecção dos vestidos do desfile, de passeio e o oficial. Fale dos elementos que compõem eles, os tecidos e bordados
Joana: Completo este ano 10 anos desde que fiz o primeiro traje para a Oktober e é sempre um desafio escolher todos os detalhes e tecidos e também criar algo que surpreenda o público. A comissão da Oktober me passa um briefing (informações e instruções) do que planejam. Foram eles que escolheram o tema da festa dos 200 anos da imigração, assim como o tom de azul, ou seja, o endereçamento desta campanha me dando um caminho para trilhar e que estivesse alinhado com os demais setores de marketing, publicidade e cultura. Através deste briefing fiz minha pesquisa e trouxe elementos para o traje do desfile, baseado na travessia dos alemães para o Brasil. O tom azul, a rosa dos ventos, metais dourados falando da nossa riqueza e a prosperidade que se seguiu com os imigrantes que aqui chegaram. Para o traje de passeio e oficial mantive esta linha de raciocínio, trabalhando com tecidos nobres e robustos e que sejam duradouros para os dias de festa, aliando praticidade e conforto. Trabalhei com as cores azul e bordô como base.
Riovale: Quanto tempo levou para a confecção?
Joana: O projeto foi finalizado no início de março e foi aprovado o modelo. Comecei a trabalhar na modelagem dos trajes do concurso, além dos demais trajes. Foram comprados os materiais e a previsão era de 30 dias para a entrega dos trajes oficiais. Minha equipe já fica esperando para trabalharmos neste tempo, somos entre 9 na confecção. Consigo, com apoio deles, ter um volume de produção um pouco maior. São 30 dias para a entrega porque antes tem todo o trabalho de desenvolvimento e criação, modelagem e compra de materiais. Os tecidos também foram escolhidos para refletir essa história. Nos trajes de passeio, o tecido jacquard brocado floral traz a sofisticação da cultura alemã, enquanto o avental jeans lembra a simplicidade e o trabalho árduo dos primeiros colonizadores. Nos trajes oficiais, o brocado azul combinado com veludo transmite a nobreza das celebrações, com arabescos de veludo bordô e bordados de cristais Swarovski, simbolizando a fusão das tradições europeias com a nova cultura formada em solo brasileiro.
Riovale: Você sempre acompanhou a Oktober. Qual significado de poder confeccionar os vestidos?
Joana: Me criei dentro da Oktoberfest, porque meu pai, João Tornquist, era agricultor e levava sempre gado para a Feirasul. Toda a Oktober passava com a família dentro do Parque. Nunca tive o sonho de concorrer a soberana mas, quando elas desfilavam e passavam pelos pavilhões me lembro dos vestidos e elas caminhando no meio dos animais. Tudo isso tem um significado especial e lembra muito da minha infância.
Riovale: Quais foram as edições em que os vestidos receberam a assinatura do Atelier?
Joana: Lembro que o primeiro ano foi com a Rainha Therry Hansen Jardim e as princesas Andressa Lupatini e Caroline Becker, na 30ª Oktoberfest. Depois da 31ª Oktoberfest, com a rainha Djulia Simon e as princesas Jéssica Kessler e Fernanda Hagemann; na 32ª edição com a rainha Cintia Aline Regert e as princesas Ana Carolina Lau e Aíscha Garcia Schilitter. Em seguida da 33ª edição, com a rainha Milena Rachor e as princesas Thartieri Assmann e Mylena Gehrke. Depois veio o ano das soberanas da 37ª edição com a rainha Daniele Andressa Müller e as princesas Thaissy Balczarek e Estéfani Aline Wegmann e na 38ª edição com a rainha Camila Eduarda Schaefer e as princesas, Marilia Fischer e Daniela Schoeninger.
Riovale: E para finalizar qual a importância da nossa oktober para você?
Joana: Ser escolhida para fazer os vestidos da Oktoberfes é fruto de uma carreira construída com muita dedicação e muito amor. É um vestido que demanda muita responsabilidade, técnica, criatividade, exige muito profissionalismo, tanto meu como da minha equipe. Procuro atender a comissão e as meninas com muito carinho. A Oktober é muito importante para a cidade, assim como eu faço os trajes para as soberanas, tem outras pessoas que trabalham com costura e confecção. Assim como meu trabalho de estilista, existem várias costureiras que se dedicam neste tempo da festa. Temos uma cultura muito forte que favorece muito uma profissão e todo um bloco econômico e uma cadeia produtiva que enriquece nossa cultura em diversos aspectos.