Eventos climáticos extremos como os ocorridos em maio na região dos Vales e em grande parte do Rio Grande do Sul serão cada vez mais frequentes nos próximos anos. A informação foi trazida pelo doutor em Desastres Naturais, Marcos Kazmierczak, palestrante da edição de junho da reunião-almoço Tá na Hora, promovida pela Associação Comercial e Industrial (ACI) de Santa Cruz. “Eventos extremos e mudanças climáticas na região da Amvarp – Associação dos Municípios do Vale do Rio Pardo” foi o tema da palestra apresentada pelo especialista no tradicional encontro empresarial, realizado na última terça-feira, 18, no Hotel Águas Claras.
Engenheiro Florestal, com especialização em Análise de Imagens Orbitais e Sub-orbitais, Marcos Kazmierczak também é Mestre em Sensoriamento Remoto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Em sua apresentação abordou o histórico de eventos extremos ocorridos na região da Amvarp nos últimos 30 anos e seus impactos. “Houve um crescimento de 249% em apenas 20 anos (41 eventos entre 1993-2002 e 143 eventos entre 2013-2022). A tendência até 2040, conforme os modelos de cenários futuros, é de agravamento dos impactos sobre a população e a economia”, alerta.
Neste cenário preocupante, Santa Cruz do Sul aparece em 12º lugar no Brasil em incidência de desastres ambientais (75 eventos em 30 anos) – 85% deles aconteceram nos últimos 15 anos.
Kazmierczak também analisou a dinâmica do uso do solo da região e o crescimento das áreas urbanizadas – muitas delas de risco – e como isso pode ser avaliado em termos de impacto diante das mudanças climáticas atuais e futuras. Um dado preocupante apontado pelas projeções até 2040 é a incidência de mais dias quentes no ano. Eles devem quase que dobrar – hoje 38 para até 70 – com sérias consequências para os setores produtivos e a vida das pessoas.
A previsão indica uma “gangorra”, com períodos de muita chuva, de forma intensa, e também de seca. No Brasil, do Paraná para baixo, a tendência é de aumento das chuvas. Já nas regiões que estão acima deste Estado haverá uma diminuição, com incidência de períodos mais secos.
Situação atual
Conforme o palestrante, faltam instrumentos de governança nesta área em grande parte dos municípios gaúchos. “Planos diretores , cartas geotécnicas, estudos de solos, metade dos municípios não têm estes instrumentos. Se não sabem a realidade de sua cidade como podem planejar o futuro”, questiona.
Outro problema é a falta de estrutura para responder aos desafios que as mudanças climáticas vão impor às cidades. Hoje, as Defesas Civis de 75% dos municípios da região sul têm equipes com 1 ou 2 pessoas; 30% não têm computador; 70% não possuem um veículo próprio e nem um celular com internet, segundo os dados apresentados por Kazmierczak.
O que fazer
Criar instrumentos de governança na área ambiental, capacitar a Defesa Civil e desenvolver uma resiliência para começar a pensar na prevenção – não somente agindo na resposta quando o desastre acontecer – são ações apontadas pelo especialista para mitigar danos aos setores produtivos e preparar melhor as cidades para essa nova realidade climática. “O principal verbo para usar agora é articular. Se não houver um trabalho coletivo de todos os municípios não haverá avanços”.
Para os candidatos ao legislativo e executivo municipal nas próximas eleições o recado do palestrante é que pensem em prevenção na questão ambiental e em ações para implementá-las, pois certamente serão cada vez mais cobrados para darem respostas eficazes nesta área.
União de forças
Em sua fala, na abertura do encontro, o presidente da ACI, Ario Sabbi, destacou a posição de engajamento da entidade ao longo de sua história e nesta gestão, em prol da causa ambiental. Na oportunidade, mencionou o lançamento da 2ª edição do evento ESG Experience, que vai ocorrer no dia 15 de agosto, em uma parceria da ACI com a Unisc.
O dirigente também conclamou a união de esforços dos municípios e entidades empresariais do Vale do Rio Pardo “para juntos buscarmos soluções efetivas e permanentes que possam evitar ou mitigar os impactos dos desastres climáticos na região”. Neste sentido, destacou a importância do trabalho da Unisc nesta parceria como grande geradora de conhecimento.
São patrocinadores do evento JTI, Unisc, Philip Morris Brasil, Gazeta Grupo de Comunicações, Universal Leaf, Unimed e BAT.