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Santa Cruz do Sul e a região começam a recuperar os estragos da pior tragédia climática

Cidades e famílias começam a reconstruir suas vidas, mas as perdas ainda são incalculáveis

Foto: Agência Invista na Sua Imagem
Limpeza na Várzea vem sendo feita pelos moradores,
muitos voluntários e equipes do Executivo Municipal

Clarice Pacheco
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Santa Cruz do Sul e o Vale do Rio Pardo seguem socorrendo as pessoas e prestando auxílio com comida, água e mão-de-obra para a limpeza das ruas e casas. Mas, ainda muitos moradores permanecem fora de suas casas no Vale do Taquari, onde a cidade de Cruzeiro do Sul foi uma das mais devastadas. Também na região Metropolitana de Porto Alegre, e na própria capital dos gaúchos, a cheia do Lago Guaíba segue mantendo a cidade alagada. Segundo o boletim da defesa civil do Estado, na tarde da quinta-feira, 8, o Estado tinha 428 municípios afetados, dos 497 que compõem o Rio Grande do Sul. Eram 67.563 pessoas em abrigos, 165.112 desalojadas e mais de 1.482.006 de gaúchos afetados pela tragédia climática, além de registrar 107 óbitos confirmados, mas com ainda 136 gaúchos desaparecidos.
Em Santa Cruz do Sul, 164 pessoas ainda permaneciam nos abrigos da Prefeitura Municipal, além de pessoas abrigadas em casas de amigos e parentes. Os moradores do bairro Belvedere seguem desalojados, pelo risco de deslizamentos de terra. Na última quarta-feira,8, à noite, a Defesa Civil manteve ainda a recomendação para que os moradores do bairro e de outras áreas de encosta do município permanecessem fora de suas residências e em local seguro. Já as ruas e casas do Várzea, bairro mais afetado pela enchente do Rio Pardinho, estão sendo limpas com auxílio das equipes da prefeitura e de inúmeros voluntários. Moradores e voluntários tentam organizar as casas e avaliar os prejuízos com a maior emergência climática da cidade.

VERA CRUZ

Algumas localidades do interior do município ainda estavam com bloqueios e dificuldade no acesso. Localidades como Entre Rios, que dá acesso à Passo da Taquara, Linha 2 de Dezembro, que vai para Albardão; Linha do Rio, em direção a São José da Reserva, e também na Coxilha do Mandelli, que é um dos acessos à Rebentona, seguiam obstruídos. Segundo disse o prefeito Gilson Becker, em uma rede social, as várias localidades e estradas do interior foram muito danificadas com as fortes e constantes chuvas, e devem receber o cuidado necessário assim que for possível.

SINIMBU

Moradores e comerciantes de Sinimbu perderam praticamente tudo com o transbordamento dos rios Pardinho e Pequeno. Conforme estimativa da Prefeitura, mais de 2.000 moradores foram desalojados, e mais de uma semana depois, ainda não é possível calcular o total de danos e prejuízos para as famílias e para Sinimbu. A prefeita Sandra Backes tem usado as redes sociais para falar com a comunidade. No domingo, 5, contou que o município continuava com obstruções de estradas e caminhos, mas que estavam conseguindo abastecer as comunidades do interior com apoio de trilheiros, jipeiros e helicópteros que levavam alimentação e água para as famílias isoladas. Na terça-feira, 7, ela, a Defesa Civil nacional, e engenheiros do município, estiveram vistoriando as pontes atingidas pela enchente para encontrar saídas para recuperar as ligações rodoviárias o mais breve possível.

VENÂNCIO AIRES

Com a baixa ainda lenta das águas na região de Vila Mariante, apenas máquinas e caminhões altos da Prefeitura conseguiram acesso, no início da quarta-feira, 08, para o trabalho emergencial em Vila Mariante. A administração municipal também busca restaurar de forma emergencial uma ligação da RSC-287 com a região Metropolitana do Estado. Após a destruição de trechos inteiros da rodovia administrada pela empresa Rota de Santa Maria e a expectativa de demora de até 30 dias para um conserto por parte da concessionária, a Prefeitura já anunciou que fará o desvio, com apoio de empresários, por estradas vicinais municipais. “Assim que baixar a água vamos fazer o acesso, num desvio que dará cerca de cinco quilômetros por estradas vicinais de Picada Mariante”, garantiu o prefeito Jarbas da Rosa.

RIO PARDO

De acordo com o último boletim da Prefeitura de Rio Pardo, o total de atingidos subiu para 15.242. Havia 558 pessoas acolhidas nos abrigos oferecidos pelo Município. A luz voltou em parte do município, depois de mais de quatro dias às escuras, mas o interior ainda seguia sem energia elétrica, e também a água estava sendo regularizada. Já a BR-471, estava com a pista liberada, porém o trânsito na ERS-403 seguia bloqueado, devido ao Rio Pardo estar ainda com transbordamento.

Casa dos Jost, em Sinimbu, foi devastada pela enxurrada

O transbordamento dos rios Pardinho e Pequeno fez com que a água atingisse o teto de casas localizadas na área central da cidade. Uma das famílias que teve que deixar a casa em que moravam há 47 anos, foi o casal Lucena e Lauro Augusto Jost, ambos octogenários.
Na terça-feira, 30, quando a enxurrada chegou até a casa deles, o casal estava dentro do imóvel. Quando decidiram sair, a água já estava na altura do quadril, e foram se refugiar em um galpão, que fica nos fundos da casa, onde é um pouco mais alto, mas também lá, começou a entrar água. Foi então que apelaram para a filha Luciana Jost Radtke, que é moradora da localidade de Rio Pardinho. “Na terça-feira,30, eu, meu marido e nosso filho estávamos em Santa Cruz do Sul, e não conseguimos voltar para casa. Entrei em contato com amigos, que foram resgatá-los e os levaram para um lugar seguro. Hoje estão bem, com a graça de Deus e ajuda de vizinhos”, contou a filha.
Logo que Luciana retornou para casa, que fica na parte alta de Rio Pardinho, e que não foi atingida pela enchente, foi ao encontro dos pais em Sinimbu, e os levou para sua casa, e desde a quinta-feira, 2, decidiram ficar na casa de uma sobrinha, em Santa Cruz do Sul, onde estão sendo muito bem tratados por todos os familiares. A família está tentando salvar eletrodomésticos e roupas, mas o casal perdeu praticamente tudo de dentro de casa.
Os sinimbuenses estão procurando assimilar tudo o que ocorreu, estão tristes, mas ao mesmo tempo, estão muito empenhados na reconstrução da cidade. “É uma tristeza muito grande; não foram somente as cidades atingidas, mas, também, o interior, o campo. Produtores perderam lavouras, animais, maquinários, a produção; empresários perderam seus empreendimentos; pessoas perderam suas casas. É um cenário desolador com consequências econômicas enormes”, refletiu Luciana.

Luciana Jost Radtke