Lucca Herzog
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O evento transformou a cidade, com clima de festival e cinema. Já se consolida entre as principais celebrações do município, e cresce a cada ano. A sexta edição do Festival Santa Cruz de Cinema começou no dia 24, com a noite de abertura e de apresentação dos primeiros filmes concorrentes, e seguiu até o dia 26 com sessões abertas à comunidade no Auditório Central da Unisc.
Programação
A edição teve recorde de inscritos, com 695 obras submetidas, vindas de 25 estados brasileiros e do Distrito Federal. Ao longo da semana do Festival, disponibilizou-se ao público uma seleção de curtas-metragens que já foram exibidos em grandes festivais pelo Brasil, além de contar com a Mostra Olhares Daqui, composta de filmes de produtores e diretores locais. Em todas as noites, houve debates com os atores e cineastas das obras apresentadas.
Diego Tafarel, um dos organizadores do evento, celebrou a iniciativa, revelando: “Esse ano temos a alegria de ter uma média de público superior a 600 pessoas por noite, pra ver curta-metragem brasileiro”. A prefeita Helena Hermany, em saudação ao público, destacou o Festival como um centro de diversidade e expressão artística. Ela lembrou que o Festival insere-se cada vez mais na comunidade local, por meio de iniciativas como a presença de alunos de 15 escolas da cidade para acompanhar as sessões, além da comissão de cinema da cidade, que atrai investimentos do audiovisual na região.
Encerramento
O grande encerramento deu-se na sexta-feira, 27, com a entrega do Troféu Tipuana para os vencedores nas 13 categorias competitivas, escolhidos por uma comissão julgadora especializada – a equipe de jurados foi composta pela produtora Dani Fogliatto, o ator Nando Cunha, a diretora Ane Siderman e a jornalista Alice Urbim.
O grande vencedor da noite foi o curta rondoniense Ela Mora Logo Ali, de Rafael Rogante e Fabiano Barros, que levou três prêmios: Melhor Filme (por Júri popular e pelo técnico) e Melhor Atriz (Agrael de Jesus). Rasgão, de Victor di Marco e Márcio Picoli, foi o que ganhou Melhor Filme Gaúcho, e o documentário Existe ou Resiste, de Vitz Almeida, ficou com o prêmio na Mostra Olhares Daqui.
Além dos resultados, houve a tradicional homenagem aos artistas convidados e às suas contribuições à 7ª arte no país. Nesta edição, os reconhecidos foram a atriz pernambucana Hermila Guedes e o carioca Thiago Lacerda, que recebeu o Prêmio Tuio Becker.
Com a palavra, Thiago Lacerda e Hermila Guedes
Ao receber a homenagem, Hermila Guedes fez uma emotiva retrospectiva de sua carreira: “Foi emocionante, foi uma surpresa pra mim. Passa um filme na minha cabeça. Eu nunca imaginei ser atriz, as coisas foram acontecendo por acaso. A arte me presenteou, e vem me presenteando, e essa homenagem é mais um presente.”
Thiago Lacerda também avaliou o prêmio, e sua relação com o Estado e a cultura gaúcha: “É muito especial. Minha carreira tem uma ligação muito forte com o Rio Grande do Sul, com a cultura e as pessoas daqui. Meus personagens foram costurando de forma definitiva a minha relação com a região. […] Quero dedicar esse prêmio a todos os profissionais com quem eu me encontrei ao longo dessa trajetória. Somos batalhadores, vencedores”.
Os dois artistas ainda comentaram sobre o Festival e sua relevância no panorama do audiovisual brasileiro: “O cinema é a arte do encontro, e cinema tem que ser visto”, afirmou Hermila Guedes. “Acho que esses festivais contribuem para a formação de público, e está faltando isso. Geralmente, esses festivais são feitos com muita paixão, e são muito resistentes. O Festival de Santa Cruz, por exemplo, resistiu à pandemia”.
Considerando toda a diversidade cultural brasileira presente no evento, Thiago Lacerda complementou: “É uma ferramenta muito potente para poder conectar essas muitas culturas. Temos um país riquíssimo, amplo, diverso, e muitas vezes nos reconhecemos nessa colcha de registros do audiovisual. Eu e Hermília temos, na nossa carreira, personagens que nos fazem reconhecer essa origem, essa multipilicidade. É um privilégio. Poder reunir essa nossa classe, que é imensa, em torno da celebração do cinema, poder estar aqui em um festival que ainda é jovem, que ainda está amadurecendo, só converge as pessoas e os talentos. Afinal, ficamos nessa luta de distribuição, de grandes centros que acabam concentrando os investimentos, e podemos esparramar isso pelo Brasil. A região do Rio Grande do Sul, por exemplo, é repleta de histórias e mitologias que dizem respeito a nós todos, e que o Brasil não conhece. É de uma potência dramática imensa”.