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Missas em Libras acontecem na Catedral

LUANA CIECELSKI
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Nos segundos domingos de cada mês, quem vai à missa das 19 horas na Catedral São João Batista, percebe algo diferente. Abaixo do altar, bem à frente dos bancos centrais há uma mulher, às vezes sentada, às vezes de pé. Seu nome é Débora Costa e ela é tradutora da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Durante toda a celebração ela gesticula e suas expressões vão variando conforma a fala do padre. Ela traduz a missa para um grupo de surdos. 
Para muitas pessoas, essa é uma novidade, mas na realidade as traduções já acontecem há cerca de dois ou três anos. Conforme conta Débora, tudo começou durante um batizado. A família da criança tinha uma pessoa surda e exigiu da igreja uma tradução. “A Igreja entrou em contato com a escola onde eu trabalho e chegou até mim, e eu concordei em ajudar”, lembra a Débora. Depois disso, porém, percebeu-se a necessidade de alguém que fizesse traduções nas missas comuns. “Na educação a acessibilidade vai sendo implantada porque a legislação exige, mas em outras esferas, muitas vezes depende da conscientização das pessoas. E acho legal que a família tenha se posicionado e exigido um tradutor, assim como foi legal a igreja estar aberta a essa mudança e procurar por mim”. 
Professora desde 2000 (há 18 anos) da rede estadual de ensino, Débora veio para trazer luz a um mundo que até então era quase estranho aos surdos católicos, como eles mesmos apontam. Com a ajuda da tradutora, conversei com a surda Janaina Silveira Silva e ela comentou exatamente isso. “Antes eu vinha na missa, mas não compreendia o que era dito pelo padre. Agora tenho essa possibilidade”. E essa, além de uma grande conquista, é uma alegria imensa. É uma situação que permite a diversas pessoas a sensação de acolhimento. 
Essa sensação é percebida também pelo padre Paulo, responsável pelas missas no templo católico, e ele ressalta que com essa atitude a igreja se aproxima ainda mais dos ensinamentos de Cristo. “Jesus sempre foi de encontro aos mais necessitados e sempre esteve aberto a todas as pessoas. Atendendo a mais esse grupo, oferecendo a acessibilidade, estamos nos abrindo cada vez mais”, destacou. “Trazer uma tradutora foi uma questão de se colocar no lugar do outro e perceber suas necessidades para poder ajuda-lo”. 
O público surdo, aponta o padre, varia bastante e ainda não é muito grande, mas ele acredita que isso se deve porque as traduções são relativamente recentes mesmo em outras esferas da sociedade. Ainda assim, ele percebe que aos poucos há uma aproximação maior desse grupo. Para ele, entretanto, a maior conquista não é o número, mas o crescimento pessoal das pessoas surdas. “Há um interesse maior pelas coisas de Deus e a gente percebe que eles têm uma fé muito profunda, muito sólida e que até nos surpreende. E essa aproximação maior que a tradução permite, também os ajuda a enfrentar quaisquer dificuldades que possam cruzar seus caminhos”, comenta. 

Mudança gradativa

Em alguns locais, onde a prática é mais antiga, ou está mais estabelecida, é comum encontrar pelo menos dois, e às vezes até três tradutores trabalhando simultaneamente. “Um traduz a fala do padre, outro traduz as músicas, e outro traduz ainda as respostas dos fiéis e as orações”, conta Débora. Essa ainda não é a realidade de Santa Cruz, mas isso é um detalhe. “Minha experiência com Libras permite que eu dê conta de traduzir tudo”, brinca Débora. Para deixar mais claro para os fiéis, porém, ela muda de posição em alguns momentos. “Quando o padre fala, eu fico em frente à cadeira. Quando é a vez do público responder, eu dou um passo para o lado”, conta. 
Débora e Janaina apontam ainda que a Pastoral do Surdo vem tendo um papel muito importante no processo de mudança. “Além de apoiar surdos e suas famílias, ela vem ajudando a disseminar a importância da acessibilidade”, comenta Débora. Elas também compreendem que a mudança é gradativa, mas que só o fato de ela estar acontecendo já é algo muito significativo. 
E a mensagem que fica em quem assiste a uma missa com a tradução em Libras, é a de que pequenos gestos voluntários fazem a diferença, são momentos em que nos colocamos no lugar do outro e percebemos que podemos fazer algo por eles que tornam o mundo um lugar melhor. É preciso quebrar tabus, é preciso compreender as diferenças, é preciso dissolver as barreiras das nossas limitações. 
É assim que a Igreja Católica vem passando sua mensagem a mais pessoas. E assim passou a ser visível aos olhos de todos, aquele grupo de pessoas que canta com gestos seguindo a interprete e que ora através da língua de sinais. Uma oração que parece até mais fervorosa. 

Nos segundos domingos de cada mês, sempre às 19 horas, a celebração acontece com tradução