Fabrício Goulart
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Uma praça, uma igreja em frente dela e um pequeno cemitério ao lado. A imagem comum do interior representa as primeiras estruturas erguidas pelos imigrantes alemães em Santa Cruz do Sul. Ela faz parte da memória coletiva, junto com casas e comércios antigos, daqueles que fizeram história. E é com o intuito de preservar esse legado cultural do município e impulsionar o turismo na região que surge o Volkspark, o Parque do Imigrante.
Com a sanção, pela prefeita Helena Hermany (Progressistas), da lei que autoriza a cessão de uma área de 55 mil metros quadrados em Linha Santa Cruz, a proposta começou a se materializar em junho. Contudo, o começo das obras, de fato, ainda não se deu e aguarda um projeto que reunirá várias ideias e sonhos antigos. A proposta inicial é de que a pedra fundamental da empreitada seja lançada no dia 19 de dezembro deste ano.
O presidente da Associação dos Moradores do Bairro Linha Santa Cruz (Amorlisc) e da Comissão Pró-Parque, Ricardo Bringmann, revela que foi criado um cronograma junto ao Executivo Municipal, por meio da Secretaria de Cultura, que se encaixa também ao Bicentenário da Colonização Alemã, a ser comemorado em 2024 em todo o Brasil. “A Prefeitura vai custear o projeto arquitetônico, que deverá estar concluído 60 dias após a assinatura do contrato, para que possamos na sequência nos candidatar a recursos no Ministério do Turismo, em Brasília”, explica.
O projeto prevê o que Bringmann aponta como micro e macro intervenções. Nas menores, estão propostos um pórtico de entrada para o parque, estrutura de acesso, estacionamento, playground e sanitários. Já as maiores abrangem desde uma réplica de um navio veleiro – para ilustrar a chegada dos primeiros imigrantes – a um biergarten e uma vila colonial. A ideia é abrir portas também para a captação de recursos na esfera estadual e na iniciativa privada.
Bringmann avalia que Santa Cruz do Sul e região têm uma bela história de superação para contar a partir da ação dos imigrantes que se instalaram no município. E é em Linha Santa Cruz, na antiga Alt Pikade (Colônia Picada Velha), que estão a primeira rua da cidade – a atual José Germano Frantz – e a instituição de ensino pioneira, hoje Escola Estadual Professor Afonso Pedro Rabuske. Também lá se encontram dois cemitérios, um católico e outro evangélico, com os restos mortais de dois dos primeiros imigrantes.
O dirigente prevê grande sucesso à iniciativa, que contou com a aprovação de um projeto apresentado pelo vereador Henrique Hermany (Progressistas) na Câmara Municipal. “Vai depender diretamente do tamanho dos nossos sonhos e recursos aplicados”, pontua o presidente, ao contar que a ideia surgiu após uma viagem a Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. “Fiquei horas pensando no local ideal e na manhã seguinte acordei pensando no espaço da Granja Municipal, onde está o berço da colonização alemã.”
Movimento do aeroporto
Paulo Afonso Trinks, de 70 anos, nasceu em Linha Santa Cruz e ainda mora na região até hoje. Raízes tão fortes vêm acompanhadas de grande preocupação com o legado da colonização alemã. Com isso, tinha o sonho antigo – partilhado junto aos vizinhos – de preservar a memória dos antepassados. “Queríamos um lugar que mostrasse aquele arado antigo que era utilizado, a roda d’água e outros objetos que faziam parte da vida daquelas pessoas”, explica.
Para o morador, o parque deverá se beneficiar do movimento de pessoas que frequentam o Aeroporto Luiz Beck da Silva, que também se localiza em Linha Santa Cruz. “Está sempre movimentado, com muitos carros estacionados. Queremos levar esse público para o parque nos finais de semana”, adianta Trinks, que também destaca o crescimento da região nos últimos anos. “Antigamente eu sabia o nome de todos (os demais moradores), hoje em dia não sei mais. As pessoas passam por Linha Santa Cruz de carro, mas é mais um dormitório”, observa.
Ele conta que o intuito é fazer com que o parque seja autossustentável, e para isso o planejamento inclui energia limpa, com painéis fotovoltaicos. A adesão da comunidade e da iniciativa privada dependerão da estrutura à disposição. “Claro, para alguém empreender tem que se arriscar, mas para isso é preciso ter estrutura”, aponta Trinks.
Os atrativos previstos
Biergarten
O projeto prevê amplo jardim e vista panorâmica para os visitantes contemplarem o pôr do sol. O objetivo é atrair a iniciativa privada, de forma que seja comercializada cerveja artesanal no espaço. Além disso, será um local para chimarrão, com água quente disponível ao público.
Veleiro
O veleiro será uma réplica do modelo de navio utilizado pelos primeiros imigrantes alemães que chegaram ao Brasil em 1824. Isso faz parte das intervenções macro e dependerá de captação de recursos.
Moinho d’água
O moinho, primeira força motriz da região, compõe o cenário que retrata a vida dos imigrantes, assim como a exposição de objetos antigos e a reconstituição de ambientes que lembram a colonização, como forno de pão à lenha e prensa de cana-de-açúcar.
Vila colonial
Ela deverá contar com uma igreja para os fiéis, museu, espaço de festas, armazém e um local destinado a manifestações culturais.
Gastronomia
O projeto prevê a exploração do espaço pela iniciativa privada, inclusive com a possibilidade de instalação de restaurante.