Lucca Herzog
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“Antes de mais nada, não se assustem. O jazz vai do oito ao oitenta em questão de segundos”. Foi assim que o baterista Diego Maracci deu início à apresentação do Privilege Jazz na noite de quinta-feira, 18, no espaço da Livraria & Cafeteria Iluminura. Revelando todo seu refino musical, que ficou evidente na variação de ritmos e andamentos, que iam da suave expectativa ao acelerado e extático, o grupo santa-cruzense descontraiu e transportou a todos para um tempo e um espaço relativamente desconhecidos. “Nunca tinha visto algo parecido. Não em Santa Cruz”, observou uma das espectadoras. “Foi uma noite maravilhosa, gente muito talentosa. Muito gostoso mesmo, tomara que se repita”.
Para Simone Bencke, uma das organizadoras do evento, o jazz “é um estilo muito próprio, que faz o tempo tomar outra dimensão. Quando ouvimos o jazz, nós vamos pra dentro desse tempo”. A uma meia–luz intimista, os livros nas estantes e os discos espalhados pelos cantos prenunciavam, a cada um dos presentes, o gosto do verdadeiro jazz. “Foi tudo preparado com muito cuidado, ficamos impressionadas com o aconchego”, reconheceu outra espectadora, agradecendo aos organizadores.
Com casa lotada, o encontro resultou numa celebração da música instrumental. Uma oportunidade que os ouvintes agarraram, sabendo ser única. O Privilege Jazz apresentou um repertório atualizado que, para quem entende do assunto, foi um prato cheio. E, para quem ainda não era iniciado, um encantamento sem volta. Foram releituras de John Lennon, Milton Nascimento, Tom Jobim e muitos outros. Além de clássicos do jazz de origem, a banda transitou entre o latin, o samba e o fusion jazz (mistura do rock com o jazz), dando, com um sucesso contagiante, um passo marcante para a cultura do jazz na cidade.
Em um dos poucos intervalos em meio ao hipnotismo dos instrumentistas, o promotor do evento, Luciano Chagas, aproveitou para lembrar e creditar o encontro aos precursores do jazz, dimensionando a importância fundamental de toda a cultura negra, “toda uma geração de pessoas que usou a música como improviso. Improviso pra lidar com as saudades, com as dores, e para acreditar na esperança, na vida. Juntos, hoje, improvisamos, na origem da palavra improviso: pronto pra agir, e pronto pra fazer sentir, nesse espaço de encontro, de pessoas que se reconhecem pela música. Que venham outros encontros, e outros improvisos”.