Débora Dumke – [email protected]
“O mar serenou quando ela pisou na areia. Quem samba na beira do mar é sereia”, a música ‘O Mar Serenou’ de Clara Nunes faz referência à Iemanjá. Dia 2 de fevereiro é a data alusiva ao orixá e o Templo de Umbanda Pai Ogum Beira-Mar e Mãe Oxum, terreiro afro-umbandista de Santa Cruz do Sul se deslocou até o Litoral Gaúcho, em Capão da Canoa, para homenagear Iemanjá.
Também conhecida como “Rainha do Mar” faz parte da religião candomblé e de outras religiões afro-brasileiras, além de ser conhecida como padroeira dos pescadores, jangadeiros e marinheiros. Além disso, é protetora dos lares, crianças, gestantes e invocado na hora do parto e por todos que desejam ser felizes no seu casamento.
É válido ressaltar que o Dia de Iemanjá é a maior festa em honra deste orixá. Momento em que milhares de pessoas se vestem de branco e vão até as praias depositar suas oferendas como comidas, espelhos, perfumes, joias e outros objetos.
Em um andor ornamentado de flores brancas, vem a imagem de Iemanjá, sincretizada na religião católica como Nossa Senhora dos Navegantes, os filhos de santos e demais simpatizantes percorrem as ruas do Litoral em direção à orla marítima, local em que acontecem os momentos da celebração.
O ponto mais esperado da festa é a presença dos espíritos enviados por Iemanjá, no qual, distribuem passes e bênçãos. Um dos momentos marcantes foi a entrega de seis bolos em formato de coração, abençoados por Iemanjá e distribuídos a todos os presentes. A entrega da mesa de oferendas no mar marcou o encerramento da festividade.
HOMENAGEM
A homenagem à Iemanjá começou na quarta-feira, dia 1º, quando foram realizadas oferendas, dentro do terreiro. “Levamos uma imagem junto ao Centro Cultural de Umbanda Pai Ogum das Matas de Pai Antônio Jardel, que é meu filho. A estátua ficou das 10h às 15h e as pessoas puderam realizar seus pedidos, entregar suas cartas e tomar seu passe para continuar sua fé. Logo em seguida, tivemos a participação do Templo de Umbanda Pai Ogum Beira-Mar em que foi realizada uma procissão”, contou o Babalorixá do Templo, Pai Antônio de Ogum.
A celebração já vem de muitos anos e é uma alegria muito grande para todos os participantes. “Não tenho como demonstrar em palavras o que é poder fazer essa celebração e congregar com outras pessoas. Realizar esse chamamento, fazer oferenda com o coração e a alma, com vontade de querer realizar essa oração e essa oferenda. Isso é muito importante para nós, é alegria, não tem como descrever esse tipo de felicidade que temos, é muita euforia para este momento”, relatou.
De Santa Cruz do Sul uma caravana partiu em direção ao litoral com três ônibus e dezenas de carros, para realizar a 35ª edição da Procissão e Festa de Iemanjá. Também foram de Porto Alegre, Canoas, Sapucaia, Novo Hamburgo, Xangri-lá, entre outras cidades e nacionalidades, totalizando mais de 5 mil pessoas. “O ponto alto é a chegada dos espíritos, em que as pessoas já estão aguardando esse momento, para tomar um conforto ou um conselho. Por isso a importância, dos espíritos, no qual, eles estarão trazendo um alento para cada uma das pessoas que lá estão”, contou.
A finalização acontece logo após a sessão, com passes e consultas. “No domingo novamente isso se repete, na qual acontece a confirmação dos adeptos do Templo, aonde chegam os espíritos e dão novamente o conforto para aqueles que não conseguiram no sábado. Pessoas esperam emocionadas, cantando e rezando para que essa entrega da oferenda seja dada no nosso canto de fé e na busca. Esse é o ponto mais alto, a finalização, em que ocorre a oferenda, no qual todos cantam e choram para entregar as oferendas para a Rainha Mãe das Águas e poder retornar para nossas casas realizados, com o nosso coração cheio de amor e alegrias para dar continuidade aos demais dias do ano e poder novamente fazer outras oferendas e reconfirmar nossa fé”, informou.
Realizar a festividade em um momento pós-pandemia é um desafio, pois o Templo ainda toma todos os cuidados necessários para a saúde de todos. “Apesar de todos estarmos vacinados, nós mantemos o cuidado, com 90% de atenção. Nossa religião possui muito contato com as mãos, de contato mesmo, de estar perto, de aproximação. Temos que ver toda essa parte de cuidado, mas agradecemos os espíritos, pois nos sentimos tão bem em poder tocar na mão de alguém e poder chegar perto. Nesse sentido, tudo que importa para nós é poder voltar na normalidade”, destacou Pai Antônio.