O empoderamento, a liderança firme e empática são características fortes das mulheres que atuam no agronegócio. Embora ainda de forma tímida, a participação de mulheres produtoras na condução de propriedades rurais no Brasil vem aumentando de forma gradativa. Segundo dados do IBGE, de 2006 a 2017 a participação delas aumentou em 38%, embora isso represente apenas 19% das propriedades administradas por mulheres no Brasil. Embora o campo sempre contou com a presença feminina, a tomada de posições de liderança é algo recente, mas com grande potencial de avanços.
Pensando nos desafios das mulheres rurais e buscando formas de reconhecer a relevância de seu papel nas propriedades, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu em 1995, o dia 15 de outubro como o Dia Internacional da Mulher Rural. Esse dia surgiu para enaltecer mulheres como a Elissandra, que são protagonistas em suas propriedades.
À frente do negócio familiar, Elissandra Krause Köhler, de 44 anos, é produtora na localidade de Florida, no município de Canguçu (RS) e há anos compartilha com o marido, Luís Cléber Wilke Köhler, de 47 anos, o orgulho e carinho pelo campo. Um sentimento que tem sido passado aos filhos Eliara, de 22 anos, e Luís Felipe, de 15 anos.
Na propriedade são cultivados 50 mil pés de tabaco Virgínia, produção que, segundo ela, é a que mantém a família. “Nenhuma cultura, numa propriedade pequena, rende mais que o tabaco, então o dinheiro para nos manter e dar estudo para os nossos filhos vem dessa produção”. Elissandra e Luís dividem as atividades na propriedade, atuando de forma conjunta nas decisões e impulsionando as melhorias na propriedade. “Acredito que nós dois juntos formamos um grande time” afirma Elissandra.
O papel de Elissandra frente à propriedade é essencial para gestão e prosperidade de todos que ali residem. Para além de produtora rural e mãe, Elissandra ainda se dedica à sua horta e ao cuidado com as vacas de leite. “A minha alegria é cuidar da minha horta, cultivar produtos saudáveis, fazer queijo e quitutes que vendo para parentes e amigos. Não me canso de fazer isso”.
O casal é produtor integrado à BAT Brasil há mais de 25 anos e sempre procuram acompanhar as tecnologias oferecidas pela empresa. “A inclusão feminina no campo e o acompanhamento no planejamento dos investimentos e gestão das atividades da propriedade estão se transformando em uma nova agricultura. As mulheres são responsáveis por essa mudança e hoje fazem a diferença quando se fala em uma agricultura ainda mais sustentável. “Quando as mulheres se reúnem nas comunidades não falam apenas das atividades da casa, elas trocam experiências sobre a produção agrícola e levam esse conhecimento para a sua propriedade”, argumenta a produtora.
A participação das mulheres vem crescendo e conquistando espaço nas propriedades integradas à BAT Brasil. “Percebemos que a mulher é peça importante em todas as etapas da cultura, desde o planejamento até a gestão de todos os processos da produção de tabaco, sejam eles técnicos ou não. A competência, seriedade e empatia fazem com que elas influenciem diretamente os bons resultados e prosperidade da propriedade rural como um todo”, destaca o Gerente Nacional de Produção Agrícola da BAT Brasil, Flavio Oliveira.
A BAT Brasil acredita na relevância das mulheres não somente na condução das propriedades rurais, mas também prestando assistência técnica a esses estabelecimentos. Desde 2018, o número de mulheres como orientadoras agrícolas cresceu 63%, e hoje elas têm maior representatividade na força técnica em campo. “A presença de mulheres como orientadoras agrícolas tem inclusive despertado maior interesse de potenciais sucessoras rurais a permaneceram no campo, mostrando que é possível investirem e conduzirem de forma próspera o negócio rural”, conclui Flavio.
Participação das mulheres na liderança das propriedades rurais aumenta
A disparidade entre homens e mulheres no ambiente corporativo brasileiro, infelizmente, ainda é grande, principalmente quando se analisa a participação em cargos de liderança. Segundo pesquisa realizada em 2021 pela Grant Thornton com 250 empresas, mulheres ocupam apenas 38% dos cargos de liderança no Brasil, sendo 35% ocupando cargos de CEO.
Na área rural essa realidade também se faz presente: 65% dos postos de trabalho são ocupados por homens, além de que as mulheres recebem cerca de 78,3% do que é pago aos homens, de acordo com o Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (GV Agro).
Por outro lado, alguns avanços têm sido percebidos. É o que mostra a pesquisa Agroligadas, realizada em 2021 com o apoio da Corteva Agriscience, Abag (Associação Brasileira do Agronegócio) e Sicredi. Das 408 mulheres ouvidas e que atuam no agronegócio, 69% são proprietárias ou arrendatárias e 72% sentem que são ouvidas nas decisões de negócio.
Os dados provam que cada vez mais mulheres batalham por um lugar de destaque no agronegócio e o Dia Internacional da Mulher Rural, celebrado no próximo dia 15 de outubro, é a data criada para destacar o papel delas nas áreas rurais, como é o caso da produtora de tabaco da Japan Tobacco International (JTI), Rosemeri Fantinel, que também atua no cultivo de soja e criação de animais no município de Dona Francisca (RS).
“Foi aqui que escolhi ficar e trabalhar e há 20 anos sou parceira da JTI. Atualmente, cultivo 50 mil pés de Burley e, além do tabaco, faço tortas, geleias e junto do meu irmão plantamos 10 hectares de soja, além da criação de porcos e galinhas para o consumo da nossa família. É um trabalho duro, no qual estou sempre com a “mão na massa”, mas estamos avançando cada vez mais por influência familiar ou admiração pelo trabalho”, acredita.
Para ela, o melhor caminho para fazer com que mais mulheres tenham protagonismo na área rural é buscar desenvolvimento, agregar conhecimento e habilidade. “Temos um papel importante de incentivar o crescimento na agricultura e valorizar o trabalho da mulher, para isso estamos nos aperfeiçoando, nos organizando e, principalmente, tendo o entendimento da qualidade do trabalho desenvolvido em equipe”.
NEGÓCIO EM FAMÍLIA
No município de Piên (PR), a produtora Leandra Guber atua na propriedade junto dos pais. “Quando completei o ensino médio optei por ficar na lavoura e não fazer faculdade. Apesar da rotina cansativa, estou sempre trabalhando com a certeza de um trabalho honesto e gratificante”, afirma. Para ela, apesar da predominância masculina no setor, as mulheres também têm tomado frente e conquistado seu espaço. “Mulheres que vivem nesse meio são batalhadoras e persistentes, temos que quebrar o preconceito e mostrar que somos capazes e tão competentes como qualquer um. Mesmo com todos os preconceitos enfrentados, nós seguimos firmes nesse ramo, precisamos nos unir e mostrar que somos capazes, mostrando umas às outras que podemos fazer a diferença na agricultura”, acredita.
Outro exemplo inspirador é da produtora Odesia Delinski, que atua no município de Papanduva (SC). Filha de produtores, tem uma vida dedicada ao campo e agricultura. “No campo eu vejo uma grande oportunidade de cultivar uma vida feliz. Desde pequena, gosto de estar aqui e optei por permanecer nesse meio. Trabalhar no campo tem seus desafios diários, mas é muito importante ter um bom planejamento e saber driblar os obstáculos, sempre buscar mais conhecimentos, que no final tudo dá certo”, afirma.
Por meio das orientações técnicas, a propriedade adota o plantio direto na palha. Supervisionada por Odesia, a prática é um ótimo sistema para o solo, pois aumenta a produtividade e qualidade da safra. “Esse cultivo apresenta bons resultados se todas as etapas forem seguidas e o solo bem coberto com uma boa camada de palha. A nossa opção como planta de cobertura para a formação de palha no plantio direto tem sido a aveia e centeio”, explica.
Para ela, as mulheres têm buscado maior aperfeiçoamento, qualificação, modernidade, rentabilidade nas propriedades, agregando também ao cuidado de plantar, colher, cuidar e o carinho em cultivar, podendo comemorar os resultados alcançados. “São valores agregados para a nossa vida e seguiremos batalhando para produzir nossa cultura com muito comprometimento e amor pelo que fazemos”, finaliza.
15 de outubro: uma data, muitos motivos para celebrar
Desde 2015, o Instituto Crescer Legal atua ofertando oportunidade aos jovens do campo. Por meio do Programa de Aprendizagem Profissional Rural, em um formato inovador, já beneficiou quase 600 jovens rurais em 11 municípios gaúchos. Mas para além desta iniciativa, o Instituto também atua em outras duas frentes: o da valorização do gênero feminino e das boas práticas na educação.
Por esse motivo, o 15 de outubro é uma data de dupla comemoração por aqui. No dia Internacional da Mulher Rural e do Professor, dois projetos do Instituto ganham destaque. O programa Nós Por Elas, em sua sexta edição, faz ecoar as vozes femininas do campo. Ao mesmo tempo, o programa de Boas Práticas reúne, mais uma vez, professores para o debate sobre gestão e empreendedorismo voltados à educação rural.
Programa Nós por Elas
A voz feminina do campo Olhar para um mundo com mais respeito à diversidade de gênero é um dos objetivos do programa que busca valorizar e desenvolver jovens egressas do Programa de Aprendizagem, promovendo a reflexão sobre temas de interesse do universo feminino e capacitando-as na área da comunicação. Realizado desde 2017 em parceria com a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), já formou 36 jovens de diversas localidades rurais do Rio Grande do Sul.
Programa de Boas Práticas de Empreendedorismo para a Educação
Realizado em parceria com o município de Canguçu (RS), foi implementado em 2020 e está em sua terceira edição. A iniciativa consiste em compartilhar ferramentas metodológicas testadas e aprovadas pela equipe pedagógica do Programa de Aprendizagem Profissional Rural com o objetivo de oportunizar aos participantes, profissionais da área da educação, a ampliação dos conhecimentos para atuação empreendedora na educação. Atualmente, conta com a participação de 15 professores, de 15 escolas rurais do município gaúcho.
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