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De Santa Cruz para a China: após percalços, hora de voltar para casa

Simples visita à família se tornou estadia de mais de dois anos para Caroline de Morais devido à pandemia

Fotos: Arquivo Pessoal
Laerte, Loly e a pequena Luara pela primeira vez juntos

Luciana Mandler
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Uma viagem que seria apenas para visitar a família se tornou um desafio e tanto para Caroline de Morais, santa-cruzense que mora desde maio de 2018 na China com o marido Laerte Elias da Costa. Em março de 2020, quando a pandemia de covid-19 estava começando, Loly, como é mais conhecida, veio para Santa Cruz do Sul rever e também fazer uma surpresa aos pais e demais familiares: anunciar que estava grávida – na época com aproximadamente dez semanas.


A visita que duraria apenas um mês – período de férias – se transformou em dois anos e seis meses longe de casa. Isso porque, com a doença se alastrando pelo mundo, as fronteiras da China se fecharam e Loly não poderia mais voltar. Daquele momento até hoje, muitas coisas aconteceram na vida da santa-cruzense, inclusive o casamento por procuração e o nascimento da filha Luara (hoje com um ano e 11 meses) em solo brasileiro. Ou seja, histórias que nem mesmo ela contando parecem ser verdadeiras.


Apesar de tudo, Loly nunca perdeu as esperanças de que um dia, mais cedo ou mais tarde, voltaria para casa e a família – agora com a pequena Luara – poderia ficar junta novamente no lar que construiu na China. Na terça-feira, 27, mãe e filha embarcaram rumo ao destino de casa. Porém, devido à covid, ficaram dois dias em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde precisaram passar por testes de PCR, e somente após prosseguiram viagem.
Já em solo chinês, elas ficarão em quarentena de sete dias em um hotel, isoladas. Após, mais três dias sendo monitoradas para que então possam estar em casa e rever Laerte Elias Costa, marido de Loly e pai de Luara. “Acredito que vamos nos encontrar entre o dia 11 e 12 de outubro. Mas a essas alturas a espera não é nada, pois estaremos perto de casa”, comemora a santa-cruzense.

Histórias vividas até o embarque de volta

Filha nasceu em Santa Cruz e pai assistiu ao parto via online

Desde que soube que não voltaria para casa tão cedo, Loly viveu momentos de altos e baixos, muitas coisas curiosas e perrengues. “A nossa história é, sem dúvida, única, mas, principalmente, cheia de esperança e amor”, destaca. Ela chegou em Santa Cruz em 7 de março de 2020 e o marido viria no dia 20 do mesmo mês. Assim, visitariam os familiares na cidade e após os pais de Laerte em Santa Catarina. a fim de contar sobre a chegada na neta. A intenção era retornar em abril, pois os números de casos na China estavam caindo.


“Acompanhávamos todos os dias. No entanto, passaram alguns dias e deu um ‘boom’ de covid. Quando o Laerte iria vir, fecharam tudo”, conta. Como teriam que ficar em Santa Cruz, Loly e o marido decidiram que ele não viria naquele momento. “Com tudo isso acontecendo, era tudo muito assustador e novo, disse para ele não vir e me esperar na China, pois dia 9 de abril eu voltaria”, recorda.


Porém, o que ninguém contava é que as fronteiras da China seriam fechadas. “Aí me bateu um desespero. Me assustei, mas pensávamos que seria temporário. Acreditávamos que em maio iria normalizar. Os meses foram passando e nada. A partir daí, não sabíamos quando iríamos nos ver de novo, quando eu voltaria para casa. E a barriga crescendo”, lembra Loly. Laerte não pôde acompanhar a gravidez de perto e apenas via fotos e vídeos.


Como estava fora da China, Carolina teve o visto daquele país cancelado. Foi então que seu marido teve a ideia de casar à distância, via procuração, pois acreditou que assim tivesse uma brecha e a esposa conseguiria voltar para casa. O casamento ocorreu em julho de 2020. Os meses foram passando e nada de Loly poder retornar ao lar. Como estava grávida, a orientação médica foi para que não viajasse, ainda que tivesse oportunidade. Laerte então viria para o Brasil. Porém, podendo ficar apenas por um curto tempo, a família preferiu que ele esperasse na China.


Durante todo esse período, a santa-cruzense ficou na casa dos pais. Luara nasceu em 7 de outubro e quem acompanhou Loly no parto foi a mãe. Graças à sensibilidade da equipe médica, a família fez uma chamada de vídeo para Laerte, que se emocionou ao ver a filha nascer. “Ele acompanhou tudo, estava tomando café lá. Eu chorei tanto. Até o médico disse que fazia tempo que não se emocionava tanto num parto”, lembra. “Mesmo tendo acompanhado à distância, queria tanto que ele estive lá comigo para dar uma força, segurar minha mão. Mas infelizmente não foi possível”, lamenta.
Não bastando ter que aguentar todas as situações sozinha, sem a presença do marido, Loly ainda passou por um perrengue. Como estava casada havia pouco tempo, ela precisou registrar a filha como mãe solteira, até que Laerte enviasse uma procuração e a certidão pudesse ser corrigida.

Enfim, a família novamente unida

Família passou alguns meses na Tailândia

Dois meses após o nascimento de Luara, Laerte enfim pôde vir a Santa Cruz conhecer a filha. Com ele na cidade, o casal aproveitou para batizar a menina, visitar os familiares e curtir em família, que até então não tinha mais se visto pessoalmente. “Fizemos o passaporte para a Luara, pois, caso desse qualquer brecha, voltaríamos para casa”, conta Carolina. Laerte ficou no Brasil até abril e iniciou o retorno para a China devido ao trabalho. Porém, primeiro foi para a Tailândia, já que os chineses não aceitavam pessoas que iam direto do Brasil. Depois de três pedidos negados e de ficar dois meses no outro país asiático, ele conseguiu ir para casa.


Nesse meio tempo, Loly estava em Santa Cruz e tentou se ocupar na empresa do pai. Luara foi para uma escolinha. Em janeiro deste ano, Laerte retornou para ver a esposa e a filha depois de dez meses sem se verem. Ele ficou um tempo na cidade e ao perceber que a família não voltaria unida para a China, sugeriu a Loly que fossem morar na Tailândia, onde talvez fosse mais fácil conseguir o visto.


“Seria também um tempo para vivermos como família”, frisa Carolina. Em abril, o trio foi para a Tailândia, onde alugaram uma casa e permaneceram por alguns meses. Laerte voltou para a China em junho e Loly retornou com Luara ao Brasil em agosto, já que, mesmo estudando por lá, a conquista do visto tailandês para depois tentar o chinês parecia distante.


Quando chegou no Brasil, ela encaminhou a documentação necessária para obter a autorização tailandesa. Apesar de estar mais lenta a solicitação, Loly recebeu a notícia que no dia 21 de setembro estaria com a permissão. “Eu nem acreditei. Liguei para o Laerte, ficamos muito felizes, embora não parecia verdade”, recorda. “Em todo esse tempo foram muitas frustrações, mas, ao mesmo tempo, eu sempre pensei que lamentar não ia adiantar e nem resolver. Não foi o que planejamos como família, o que queríamos, mas, sem ter o que fazer, sempre tive esperança. Foi muito difícil, mas agora conseguimos e estamos voltando para casa”, comemora, emocionada.


Depois dessa longa espera, Loly não vê a hora de apresentar a filha Luara para a cachorrinha Preta, que ficou sob os cuidados de Laerte durante sua estadia no Brasil. “Estamos cheios de expectativas e sonhos. Perto de onde moramos tem um rio bem bonito, com pista de corrida. É bem legal a paisagem e a gente fica se imaginando lá, em família. Não tem como explicar a sensação de poder, enfim, voltar para casa”, finaliza.