Luísa Ziemann
[email protected]
Desde o cafezinho na padaria até o combustível que sai da bomba nos postos. O consumidor brasileiro já sentiu no bolso que a alta de preços é generalizada no País. As variações dos números para cima são medidas pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que elevou sua projeção de inflação de 6,55% para 7,9% este ano, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em maio. Por sua vez, a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro continuou em 1,5%, mesma projeção feita em março.
Se essa expectativa de alta nos preços se concretizar, a inflação ficará acima do dobro da meta estipulada para este ano, que é de 3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Uma inflação de 7,9% em 2022 também se configuraria no segundo ano seguido em que a meta foi descumprida para cima. Em 2021, a inflação foi de 10,06%, bem acima da meta de 3,75%.
Entre os principais motivos para um percentual tão elevado de inflação, segundo o boletim do IBGE, está no fato do grupo de alimentação e bebidas e do de transportes, principalmente combustíveis, apresentarem sucessivas altas no IPCA. Há um destaque também para a inflação de bens e serviços. Para driblar a disparada nos preços, o brasileiro vem readequando o seu orçamento e se reorganizando financeiramente.
O professor de Economia do Departamento de Gestão de Negócios e Comunicação da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Heron Begnis, explica que a inflação retira o poder de compra do consumidor. “Os preços se elevam em descompasso com os reajustes nos salários e isso tem como efeito a perda de poder aquisitivo”, aponta. É por isso que a inflação afeta mais fortemente as classes assalariadas, o que contribui para o agravamento das desigualdades sociais no Brasil.
Este ano, as principais altas de preços puderam ser percebidas nos combustíveis, como a gasolina e o gás de cozinha, e em demais derivados de petróleo que entram na cadeia produtiva na forma de produtos químicos, embalagens e transporte. “Além, é claro, dos alimentos, que precisam de combustível para serem produzidos e transportados até os consumidores”, acrescenta Begnis. O economista salienta ainda que questões climáticas também interferem. “Em termos de alimentos, a seca no Rio Grande do Sul e as enchentes no Sudeste, que marcaram o início do ano, colaboraram para os aumentos de preços nos alimentos, especialmente hortigranjeiros e leite”, explica.
Por isso, cortar os lanches fora de casa e outros gastos supérfluos, pesquisar os preços dos produtos que deseja adquirir em diferentes estabelecimentos, aproveitar promoções – sobretudo na hora de encher o carrinho nos supermercados – e evitar comprar por impulso são dicas simples, mas que, na prática, fazem diferença na hora de abrir a carteira no final do mês. De acordo com o economista, para não ficar com o orçamento no vermelho ou até mesmo se endividar, é importante ter em mente adquirir apenas o essencial no momento.
Dentro da situação financeira crítica que vive o Brasil, entre as sugestões de Begnis está postergar a compra de bens duráveis, como eletrodomésticos e eletrônicos, e não utilizar o crédito rotativo do cartão e do cheque especial, por conta das taxas de juros elevadas. “Em se tratando de vestuário, não se deixar levar pelo status das grifes e comparar preço e qualidade”, advertiu.
Compras no supermercado devem ser feitas com consciência
Com a alta dos combustíveis e demais derivados do petróleo, o supermercado acabou se tornando um dos lugares mais difíceis de se economizar. Se, alguns anos atrás, com R$ 100,00 a dona de casa poderia sair da loja com uma boa quantidade de itens para pôr à mesa, hoje em dia o mesmo valor se resume a poucas sacolas. A chamada cesta básica – constituída por alimentos considerados básicos na dieta da família brasileira, como arroz, feijão e carne – chega a custar mais de R$ 700,00 em algumas capitais do País.
No relatório de maio, o IPCA apontou que o tomate, um dos itens essenciais da cesta básica, é vendido atualmente por um valor 117% maior que o de abril de 2021. O aumento da cenoura, por exemplo, chegou a 200% nos últimos 12 meses. De acordo com o levantamento mais recente do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o custo médio da cesta básica aumentou nas 17 capitais onde foi feita a análise.
Atualmente, a cesta mais barata da lista pode ser encontrada em Aracaju, por R$ 524,99, e representa 43% do atual salário mínimo (R$ 1.212,00). Porto Alegre se encontra em quarto lugar no ranking de maiores custos, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis. Na capital gaúcha, o conjunto de itens alimentícios essenciais chega a custar R$ 734,28. O economista Heron Begnis salienta que, mais do que nunca, papel e caneta na mão são importantes. “É essencial fazer lista de compras e procurar as promoções”, reitera.
Outras dicas práticas para evitar gastos exagerados no carrinho de compras do supermercado são experimentar produtos de marcas diferentes, com preços menores, e até mesmo modificar o cardápio da família. “É possível optar por refeições compostas por produtos da estação e evitar desperdícios, pois muitos alimentos são subaproveitados”, salienta Begnis.