Ana Souza
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A paixão pelo trabalho artesanal com a fabricação de facas veio através do pai, militar reformado que tinha como hobby a produção de lâminas. Assim iniciou a trajetória de Carlos Augusto Dummer no ramo da cutelaria artesanal, que é, basicamente, o ofício de quem produz instrumentos de corte ou perfuração, tais como facas, canivetes, espadas, machados, punhais, entre outros. A técnica é milenar e uma das mais antigas da humanidade.
Natural de Santa Cruz do Sul, Dummer despertou muito cedo a curiosidade sobre a produção de facas e essa fascinação o levou longe, tanto que, hoje, após cinco anos de aprendizado, continua a exercer a atividade. Montou uma oficina com uma produção mais manual. Utilizava aços de reuso, tal como molas de Kombi, lâminas de serra e estribos de picapes. Ele procura utilizar materiais com mais qualidade, como o aço carbono.
A paixão seguiu em frente e pelo caminho Dummer conheceu um mestre na arte da cutelaria, Ismael Biegelmeier, da cidade de Feliz, que lhe passou ensinamentos por meio de um curso, que fez o artesão despertar ainda mais para o trabalho que se tornou seu ganha-pão. Além das facas, faz bainhas, cabos e afiação. Antes do trabalho como cuteleiro, era eletricista autônomo.
“Estava um pouco descontente. Iniciei os estudos na cutelaria e achava muito interessante poder fabricar minhas próprias facas. A minha ideia era ver o que eu seria capaz de fazer, se eu tinha vocação, porque sempre gostei. Estudei para achar um caminho profissional. Aos poucos montei minha oficina com ferramentas manuais, meio que rudimentar. A partir das primeiras peças que vendi, fui comprando as máquinas e aprimorando meu trabalho”, conta Dummer, sempre lembrando o seu inspirador. “Meu pai era ferreiro e alguns materiais eram dele. Achava o máximo o trabalho. Desde criança acompanhava ele e sentia orgulho em ver presentear os amigos com algo produzido artesanalmente. Eu aprendi somente olhando, meio que autodidata. Estudei, fiz cursos de cutelaria e foi assim que decidi que essa seria a minha profissão, o meu trabalho”, define.
A primeira faca produzida por Dummer tem até data: 17 de junho de 2017. “Nunca vou esquecer. Há cinco anos que faço a arte que iniciou como renda extra e agora é definitivamente uma fonte direta de recursos”, enfatiza. Ele já vendeu seus produtos para Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, entre outras localidades do País, e também para Suíça e Estados Unidos.
“Pessoas acompanham meu trabalho nos níveis nacional e internacional através do meu endereço no Instagram: @c.dummer. O aprendizado repassei para meu irmão Guilherme, que foi meu primeiro aluno (risos). Ele produz, há um ano, seus materiais e já enviou para a Irlanda. Tem endereço no Insta @dmmrknives. A cutelaria é um trabalho, uma fonte de renda que agrega valores para as pessoas que adquirem as peças tanto para colecionar como para uso. O trabalho é bem personalizado e alia beleza e personalidade. Cerca de 80% das vendas são via Insta e meu carro-chefe são as facas de churrasco e de cozinha”, revela.
UM LEGADO
Ter reconhecimento no trabalho que exerce era o objetivo do empreendedor. “Queria que meus materiais se tornassem um legado e que trouxessem valorização por parte das pessoas que as adquirissem. O foco estava em produzir algo útil, que fosse autêntico e marcasse gerações”, pontuou Dummer, que faz uso do aço com o verdadeiro conhecimento de um mestre.
A Cutelaria Dummer traz como especialidade as técnicas em aço carbono, San Mai (estilo japonês), Go Mai (cinco camadas de grande beleza e altíssimo poder de corte) e aço damasco (alto teor de carbono e de níquel). Detalhes são observados nas terminações bruta, nos estilos Fighter (de luta), Skinner (facas pequenas) e Kukri (de combate, criada no Nepal para uso diverso).
Na arte da fabricação, ele tem preferência pelas madeiras, além das naturais e das estabilizadas. Se inspira nos trabalhos de cuteleiros como Waybe Morgan, Burt Foster, Thomas Rucker e Irmãos Sobral (CAS). Sempre com visão no futuro, o empreendedor está em busca de novidades. Seu trabalho já tem reconhecimento internacional. “Está publicado em um artigo no livro dos cuteleiros ‘Legacy of Steel’ (Legado de Aço), escrito por Michel Guendler Gruenberg e Leandro Pazini, com 365 profissionais do Brasil e América Latina. Fiquei sabendo pelo meu professor Ismael sobre a publicação. Me senti muito feliz e realizado”, comemora.