Empresários ainda sentem os prejuízos causados pelo rígido distanciamento social controlado exigido no ano passado
Lavignea Witt
O auge da pandemia de covid-19 foi marcante para muitas categorias no Brasil. Os setores da saúde e da economia foram os mais impactados e estavam presentes em praticamente todas as publicações diárias dos meios de comunicação do País. Hospitais e unidades básicas de saúde ficaram lotados e os profissionais, sobrecarregados. Já no comércio, milhares de empresários precisaram repensar seus modelos de negócio para continuar garantindo renda.
Logo no começo da pandemia, o funcionamento do setor comercial foi definido por meio de um método de distanciamento controlado elaborado pelo governo do Rio Grande do Sul com bandeiras e protocolos. O modelo dividia o Estado em regiões e semanalmente cada uma recebia um estágio de controle, que era traduzido nas cores amarela, laranja, vermelha e preta. Onze indicadores apontavam o nível de risco de contaminação da área covid, do amarelo (baixo) ao preto (altíssimo).
No início de 2021, com a subida exacerbada de casos da doença, todo o RS entrou no estágio da bandeira preta. Santa Cruz do Sul precisou fechar totalmente seu comércio durante cerca de 40 dias entre fevereiro e março. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas) do Vale do Rio Pardo, Mauro Spode, lembra que o setor ficou inativo nesse período, mas frisa que estava mais preparado do que no ano anterior. “A experiência adquirida em 2020 foi importante para enfrentar os dias parados. Vale ressaltar que o varejo se adaptou às normas estabelecidas pelas autoridades sanitárias, tanto que ficou comprovado que as aglomerações não aconteciam nas lojas”, sublinha.
SITUAÇÃO DIFÍCIL
Mesmo depois de toda experiência adquirida após quase um ano de pandemia, Vanderléa Grieger, administradora do Restaurante Mafalda, afirma que o período de bandeira preta em 2021 foi de muita preocupação. “Começamos a fazer bastante propaganda nas redes sociais e as vendas eram somente por delivery (entrega a domicílio). O restaurante quase faliu e fechou. Era um trabalho enorme para fazer o delivery e a gente não conseguia sobreviver somente disso, tanto que precisei de ajuda para pagar os funcionários”, lembra.
Vanderléa relata que, após aquele período, o estabelecimento começou a trabalhar com buffet servido por funcionários aos clientes. “Nossa média antes da pandemia era de 160 almoços por dia. Com buffet servido, era de 20 a 30 almoços por dia, porque as pessoas não gostavam desse serviço”, explica. Conforme o distanciamento social foi sendo flexibilizado, a administradora viu um aumento na clientela, mas o faturamento ainda era baixo comparado ao tempo anterior à pandemia.
Agora, em 2022, a recuperação dos lucros do restaurante ainda não é total. “Chegamos apenas em 70% e acho que não volta mais a normalidade pelo envolvimento de outras coisas. A nossa margem de lucro caiu porque o valor dos insumos subiu bastante. Antes, fazíamos uma feira rural com R$ 150,00 e hoje o valor triplicou. Então, eu acho que o normal não volta mais, levando em conta a base que eu tinha antes da pandemia”, analisa Vanderléa.
Mesmo após a flexibilização de quase todos os protocolos sanitários, a administradora do Restaurante Mafalda acentua que os danos causados pelo momento pandêmico ainda se refletem em seu negócio. “Agora, com a retirada das máscaras, aumentou o movimento, mas a gente ainda tem muita conta desses dois anos de pandemia para pagar. Antes eu sabia os dias que teriam mais ou menos movimento, hoje não existe mais esse parâmetro. Trabalho hoje pensando no hoje, amanhã não sei como vai ser. Ainda está muito complicado”, pondera.